Equador: Taita Proaño, cento e quatorze anos de vida

30 de janeiro de 2024
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Por Maurice Sheith Oluoch Awiti *

No dia 29 de janeiro, celebra-se o 114º aniversário do nascimento de monsenhor Leonidas Proaño. Nas celebrações comemorativas, destacam-se algumas características que merecem reflexão: sua coragem e seu compromisso pastoral; sua identidade, baseada em sua origem e evolução como figura eclesiástica e social; seu comprometimento com uma causa, etc.

Leonidas Eduardo Proaño Villalba nasceu em Ibarra (na região de Imbabura, Equador) em 29 de outubro de 1910, em uma casa e família pobres. Poderíamos dizer que ele era um sobrevivente, pois seus três irmãos mais velhos morreram em tenra idade, e seus pais ganhavam magro sustento trabalhando como artesãos tecelões de chapéus, como a maioria de seus conterrâneos.

Nesse contexto, Leonidas recebeu uma educação católica e disciplinada, enquanto ajudava seus pais, Agustín e Zoila. Ele iniciou sua formação para o sacerdócio católico em 1923, quando entrou no Seminário Menor “San Diego” em Ibarra. Sete anos depois, foi enviado por seu bispo para Quito, a fim de continuar sua formação filosófica e teológica no Seminário Maior “San José”. Em 4 de julho de 1936, foi ordenado sacerdote. Seus primeiros encargos pastorais foram em sua diocese de Ibarra, e depois como bispo em Riobamba de 1954 a 1985.

Valorizando sua memória

Surgem algumas perguntas sobre as fontes de sua audácia e seu estilo de vida; sobre o interesse em preservar sua memória e estudá-la para evitar o perigo do esquecimento; sobre sua importância hoje para o Equador e para a Igreja em geral. Nesta reflexão sobre seu nascimento, desenvolvo apenas o tema da valorização de sua memória.

É evidente que a trajetória de Mons. Proaño não pode ser resumida em poucas palavras. No entanto, podemos destacar algumas características. Sua constância em ser uma boa notícia para os pobres da província de Chimborazo. A coragem e a força de sua palavra e testemunho que ajudaram e ainda ajudam a tirar os indígenas da cruz, em um quadro sociopolítico de violência, pobreza e migração, que produz morte, medo e sofrimento para mulheres, crianças e idosos.

Não se trata de colocar esses temas na mesa de discussão, mas de lembrar Taita (pai em língua quíchua) Proaño e entender como sua figura pode iluminar os desafios de hoje e ajudar especialmente a Igreja em seu papel de acompanhar o Calvário do século XXI. Acredita-se que a trajetória pastoral e social de Proaño teve um impacto significativo na Igreja de Riobamba, especialmente entre os indígenas e os pobres, para os quais ele foi fonte de esperança.

O Taita ainda está vivo A própria comemoração é uma demonstração de que ele ainda está vivo entre os pobres e aqueles solidários com sua causa, vindos de muitas partes do mundo. Devemos lembrar que essa presença não é física, mas simbólica: é a “luta” contra as forças contrárias à celebração de sua memória, insensíveis à dor dos outros.

Ao folhear os livros de cânticos usados em Riobamba, descobrimos a canção “Tu te ne vai”, mas o verso continua dizendo: “mas ficam as árvores que você plantou”. Trinta e seis anos após sua morte, um bom grupo de nós ainda o lembra, lendo seus livros e pesquisando sobre sua vida e trabalho. Essas são as sementes plantadas que agora são árvores.

As celebrações foram muito ricas e variadas: culturais e artísticas; acadêmicas e teológicas; evidentemente, não faltaram as celebrações eucarísticas. Em todas elas, houve uma participação expressiva de cidadãos e até estrangeiros. Foram verdadeiras manifestações populares que lembraram o mestre, o pai, que deu tudo pela libertação dos oprimidos, marginalizados e explorados.

O povo celebra mais de trinta anos de vida solidária com os pobres, crianças, mulheres e homens, todos maltratados e desprezados. As manifestações confirmam um trabalho pastoral de resistência e perseverança, em busca da libertação integral. Ao mesmo tempo, expressam o compromisso de continuar a luta pela libertação dos pobres, agradecendo a Deus por sua fidelidade ao Evangelho.

Perseverante e incansável

Entre 1954 e 1988, Proaño lutou incansavelmente pela justiça, dignidade humana e vida dos pobres. Ele nunca se envergonhou de estar ao lado dos indígenas, malvistos e tratados cruelmente pela sociedade e pela própria Igreja. Assim, levando em consideração a nova eclesiologia do Concílio Vaticano II (1962-1965), o Pacto das Catacumbas assinado por vários bispos naquela ocasião, a Doutrina Social da Igreja, os documentos de Medellín (1968) e Puebla (1979), e a realidade da província de Chimborazo, ele inverteu a história e apresentou o Ressuscitado àqueles que desejavam ressurgir.

A proposta de valorizar sua memória vai além da preservação de arquivos e bibliotecas. A visão cristã da ressurreição é percebida como uma correlação de forças: negação e aceitação, silêncio e anúncio. Deduzimos isso da homilia de Proaño no primeiro aniversário do líder indígena Lázaro Condo, morto na luta pela terra: “Lázaro ressuscitou”. Portanto, Proaño e sua obra ainda estão presentes e ressurgiram apesar do poder dos opositores.

* Padre Maurice Sheith Oluoch Awiti é um missionário da Consolata do Quênia-África na Colômbia.

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