Grupo 50: a necessidade de formação no nosso tempo

Grupo de missionários na capela da casa Geral em Roma. Foto: Jaime C. Patias

O nosso G50 não é o mais recente modelo de celular, nem é um encontro dos 50 países mais ricos e mais poderosos do mundo. É antes um grupo de 20 missionários da Consolata (3 irmãos e 17 padres), reunidos em Roma para um encontro de formação. Ricos sim, mas em anos: cinquenta, como a sigla G50 nos lembra, de ordenação sacerdotal ou profissão religiosa.

Por Orlando Hoyos e Jaime Díaz *

Dois ou três dias antes do curso que acontece de 30 de março a 30 de abril, os participantes começaram a chegar dos vários países onde vivem a missão. Alguns estavam mesmo confortavelmente sentados em cadeiras de rodas, não porque precisassem delas, mas aproveitando a possibilidade oferecida pelas companhias aéreas, o que lhes facilitou a passagem pelos grandes aeroportos para chegarem a Roma.

O superior da Casa Geral, Padre Zé Martins, foi muito preciso no seu acolhimento: no aeroporto havia sempre alguém à nossa espera, embora não faltassem preocupações devido à lentidão do serviço de cadeiras de rodas em Fiumicino; e já na casa cada um recebia o seu próprio quarto e sentia-se imediatamente em casa, tal como o nosso Fundador queria.

Depois, pontualmente, em 30 de março às 9 da manhã, começou o curso com as respectivas apresentações: a do superior da casa sobre as coisas práticas e habituais da comunidade local; a do Padre Antonio Rovelli sobre o conteúdo e modalidades do curso; a do Superior Geral Padre Stefano Camerlengo explicando o significado desta etapa formativa na terceira idade (da qual publicamos abaixo um extrato). Tudo terminou com a Eucaristia em que celebramos sacramentalmente a alegria de ser e estarmos juntos.

No dia seguinte, a primeira sessão do encontro foi dirigida pelo Professor Lucio Capoccia com o tema “Contar sobre a própria vida. Importância e moralidade”. O professor delineou as etapas mais importantes da vida de um missionário: a infância, o nascimento da vocação, o tempo de formação, a profissão religiosa e a ordenação, e os longos anos de trabalho missionário.

Entre uma explicação e outra houve uma dinâmica na qual os participantes apresentavam um símbolo ou objeto que pudesse resumir significativamente a vida de cada missionário.

Missa presidida pelo Superior Geral, Padre Stefano, abre o curso de formação em Roma
A mensagem de Stefano Camerlengo: a necessidade de formação

No seu discurso, Padre Stefano falou da formação contínua como uma necessidade do nosso tempo que remonta ao tempo do Concílio Vaticano II, e que também tem sido entendida de muitas maneiras. Cronologicamente, podemos reconhecer pelo menos três formas e estilos que nós missionários também experimentamos:

1. Após o Concílio, nos anos 70, houve cursos de reciclagem profissional para responder às mudanças e à progressiva “especialização” do compromisso missionário.

2. Depois passamos aos sabáticos, que eram cursos de renovação mais extensivos oferecidos ao indivíduo, mas com o defeito de não tocar ou alterar as dinâmicas fundamentais pessoais ou comunitárias.

3. Hoje preferimos utilizar a expressão formação contínua, que não prevê uma separação drástica entre formação básica e permanente, e coloca sempre o missionário no centro como sujeito responsável pela sua própria transformação pessoal e como arquiteto de transformações comunitárias.

Na reflexão vemos que estes processos de formação não estavam longe do coração e das preocupações do Bem-aventurado José Allamano: a sua presença inegável nas missões, apesar da distância geográfica, através de cartas, diários e conselhos concretos; o tempo que passou a ouvir atentamente os missionários que regressavam; todas as formas que utilizou para os encorajar, apoiar e recordar-lhes a grandeza da vocação missionária.

“Nunca me cansarei de vos exortar”, dizia Allamano, “a considerar bem o significado da vossa vocação, para que possais crescer na estima da mesma e dar graças ao Senhor todos os dias e esforçar-vos por corresponder com um espírito forte e constante”.

Isto, que Allamano considerava tão importante, tornou-se uma exigência inevitável na situação mundial de hoje. Anos atrás, o bispo brasileiro, Dom Aloísio Lorscheider falou da velhice como o “domingo da vida”, reconhecendo que no domingo, o ser, a partilha e a celebração têm precedência sobre o trabalho, o fazer e o compromisso com as coisas do dia-a-dia. Nós missionários somos também chamados a “envelhecer com graça”, pelo que é importante não esquecer sete orientações que devem animar esta etapa da vida.

Para isso, temos de viver:

1. O tempo de humildade e gratidão que nos permite abraçar a nossa própria condição humana de vulnerabilidade.

2. O tempo do esvaziamento e do desprendimento: abandonando as vaidades e os rancores, através do perdão, somos capazes de viver em paz.

3. O tempo do auto-domínio: sendo anciãos com um coração paciente, tolerante e desprendido.

4. O tempo da atenção para não perder a nossa identidade: dignificados mesmo à medida que envelhecemos.

5. O tempo de contemplação que nos permite aprofundar o que, dentro de nós, amadurecemos ao longo dos anos.

6. O tempo de silêncio, indispensável para a contemplação.

7. O tempo de oração, que é a missão especial dos idosos.

Entre as orações há uma especial para os idosos: a Nunc Dimittis (Lc 2, 29-32). No cântico Simeon confronta-nos com a arte de nos prepararmos para a nossa partida deste mundo quando chegar a nossa hora.

“A vocês, queridos missionários, expressamos o nosso afeto, respeito e gratidão”, conclui o Padre Stefano. “Enfrentem o processo de envelhecimento com serenidade e não vivam apenas de memórias, continuem a animar o compromisso do Instituto também com os sonhos e projetos que nascem da vossa experiência”.

* Padres Orlando Hoyos e Jaime Díaz, missionários da Consolata colombianos, participam do curso de formação em Roma.

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