Neste Domingo, por meio da parábola do rico insensato (Lc 12, 13-21), Jesus toca um dos aspectos da vida humana: a grande preocupação pela busca de bens materiais. Enriquecer ou acumular bens, neste momento histórico em que o número de pobres cresce tão rapidamente, não pode ser ignorado pela Igreja e cada um dos seus membros.
Por Joaquim Ferreira Gonçalves *
Esta parábola faz parte do grupo daquelas que Jesus usou para explicar o modelo de Reino que Ele veio instituir. Na parábola de hoje convida os apóstolos a despojar-se de tudo para poderem dar continuidade à sua missão, sabendo que eles ainda estavam à espera de um Reino de modelo simplesmente humano. O Reino de Deus não se constrói baseado na acumulação de riquezas, na busca de grandeza, de fama, mas na partilha de tudo o que existe e foi criado por Deus para todos. Os mais pobres não podem viver das sobras dos mais abastados. Tudo o que Deus criou foi para o bem de todos. Jesus não apresenta um projeto de reino palaciano, mas de valores: de justiça, de paz e de amor.
Reino edificado sobre os valores da igualdade, da fraternidade e da partilha. Quando centralizamos a vida na procura do bem-estar pessoal e grupal, instala-se a insensibilidade para com o próximo necessitado e ignora-se o sentido profundo da vida neste mundo por onde passamos tão rapidamente. A tentação pela ganância não está presente apenas na vida daqueles que acumulam muitos bens, mas também na vida dos necessitados que vivem concentrados na preocupação pelos bens que não conseguem adquirir. Enfim, viver com a preocupação de chegar devidamente preparado ao fim da vida não é fácil.
A exploração e a apropriação de bens naturais, a existência de trabalho escravo com pagamento de salários mínimos, o desvio de capitais para fugir dos impostos, o capital não declarado, estão presentes em todos os países e são como deuses cada vez mais adorados. Os mais pobres não dispõem de meios para que as novas gerações possam estudar para chegar a níveis de maior qualidade. A quase totalidade dos políticos e governantes são insensíveis às situações de pobreza, onde a saúde também não é cuidada para se poder viver com dignidade. O sentido de democracia (povo que governa) e de cidadania está cada vez mais desfigurado.
Com esta parábola, Jesus não quer banalizar a riqueza, o progresso, o avanço de conhecimentos científicos, mas quer denunciar profeticamente a desgraça que nasce do endeusamento da riqueza. Jesus chama a atenção, dizendo: “cuidado com os falsos deuses”. Um homem desconhecido vem pedir a Jesus uma intervenção na família porque o irmão mais velho não reparte os bens familiares com os irmãos. Com a morte do pai, o filho mais velho assumia a responsabilidade de cuidar do património familiar e cuidar da sustentação da mãe e dos irmãos. Em nossos dias, quem tem recursos busca seguros para muitas coisas: seguro de vida, de carro, de roubos, de incêndio, de saúde, etc… Mas nossa vida não acaba aqui. É necessário ter seguro para o que virá depois da morte. A vida eterna nunca será assegurada por meio de riquezas, mas sim pela fidelidade no cumprimento da Palavra de Deus. Ninguém nos deu ensinamentos tão perfeitos como Jesus. Ele não deixou de tocar nenhum aspecto da nossa vida para que tudo esteja orientado para o “depois”…
Não podemos e não devemos colocar o único Deus verdadeiro no nível de opinião, nem a participação na igreja como algo puramente ocasional. Porque somos membros da Igreja e fomos enxertados em Cristo, devemos dar os frutos correspondentes através do testemunho de vida, sustentado pela fé, pela oração, pelos sacramentos, dos quais a Eucaristia é o mais importante e saudável, se vivido com coerência. Enfim manter sempre viva a escolha de uma vida de doação, de entrega, de serviço, de amor.
* Padre Joaquim Ferreira Gonçalves, IMC, missionários da Consolata em Fátima, Portugal.