Festa de Nossa Senhora Consolata

No dia 20 de junho celebramos a Solenidade de Nossa Senhora Consolata, padroeira de tantos missionários e missionárias espalhados pelo mundo.

Por Jaime C. Patias *

A devoção para com Nossa Senhora Consolata (Consoladora dos Aflitos) surgiu em Turim (norte da Itália), na metade do século V. Segundo uma tradição o quadro de Nossa Senhora Consolata foi trazido da Palestina por Santo Eusébio, Bispo de Vercelli, que o doou a São Máximo, Bispo de Turim. São Máximo, por sua vez, no ano 440, expôs o quadro à veneração dos fiéis de Turim, num altarzinho erguido no interior da igreja do Apóstolo Santo André.

O povo, a convite do seu Bispo, começou a venerar a efígie daquele quadro com grande fé e devoção. E Maria começou a distribuir muitas graças, inclusive graças extraordinárias, sobretudo em favor das pessoas doentes e sofredoras. Sensibilizados com o amor misericordioso da Virgem Maria, o Bispo e o povo começaram então a invocá-la com os títulos de “Mãe das Consolações”, “Consoladora dos Aflitos”, e “Consolata” que é a forma popular de Consoladora. O quadro de Nossa Senhora Consolata permaneceu exposto à veneração dos fiéis, durante quatro séculos consecutivos.

Por volta do ano 820 entrou em Turim a heresia dos iconoclastas (pessoas que destruíam toda e qualquer imagem ou quadro religioso expostos ao culto). Em tal circunstância, temendo que o quadro da Consolata fosse destruído, os religiosos que tomavam conta da igreja de Santo André resolveram tirá-lo do altar e escondê-lo nos subterrâneos da igreja.

Mas a perseguição se prolongou por muitos anos. Assim, o quadro ficou desaparecido pelo espaço de um século. Este fato fez com que os fiéis deixassem de frequentar a capela e perdessem, a lembrança da Virgem Consolata. o ano 1014, Nossa Senhora apareceu a Arduíno, Marquês de Ivréia, gravemente enfermo, e pediu lhe que construísse uma capela em sua honra em Turim, junto às ruínas da antiga igreja de Santo André. O Marquês Arduíno milagrosamente curado por Nossa Senhora, e tocado profundamente pelos favores da Virgem Maria, empreendeu a construção da capela.

Ao fazerem as escavações para os alicerces da capela de Turim, os operários encontraram no meio dos escombros o quadro de Nossa Senhora Consolata, ainda intato, apesar de ser uma pintura em tela. O fato encheu de alegria a população da cidade e a devoção à Mãe das Consolações renasceu.

Santuário de N. S. Consolata em Turim na Itália. Foto: Jaime C. Patias

No século seguinte, uma terrível guerra civil quase destruiu completamente a cidade de Turim, fiz com que muitos habitantes abandonassem a cidade. Com tal situação, a igreja de Santo André e a capela de Nossa Senhora Consolata foram desmoronando aos poucos e tudo acabou novamente num monte de escombros. E o quadro da Consolata, mais uma vez, ficou mergulhado nas ruínas por muitos anos.

Maria, porém, interveio de novo, e de forma extraordinária. Em 1104, segundo a tradição, chegou a Turim, John Ravais, um homem cego de Briançon, França, que afirmava ter tido uma visão: enterrada sob as ruínas de uma velha igreja, vira uma pintura de Nossa Senhora. A Virgem revelou lhe ainda que aquela capela localizava se em Turim, na Itália. E a Virgem Maria prometeu devolver-lhe a visão se fosse a Turim visitar a sua capela que jazia em ruínas. Lutando contra muitas dificuldades o cego chegou a Turim. Com o apoio do bispo, deram início aos trabalhos da escavação no local indicado pelo cego conforme orientação de Nossa Senhora.

No dia 20 de Junho de 1104, o quadro da Consolata, ainda intato, foi reencontrado sob as ruínas. O cego, conduzido à presença do quadro, recuperou instantaneamente a visão. Este episódio consolidou na alma do povo de Turim a devoção para com Nossa Senhora Consolata. A partir destes fatos a devoção se espalhou pelo mundo e o Santuário de Turim se tornou um grande centro de peregrinação.

Contemplando a imagem da Consolata, vemos Nossa Senhora que reclina docemente a cabeça para Jesus. Símbolo desse gesto: ela dirige seu pensamento à fonte e causa de todas as suas grandezas: seu divino filho. Parece nos ouvir ainda de seus lábios o “Magnificat” solene cântico de gratidão que há vinte séculos ecoa pelas montanhas da Judéia e pelas encostas do mundo: “O Poderoso fez em mim maravilhas… Sua misericórdia se estende de geração em geração” (Lc 1, 49-50)

De Turim para o mundo

O responsável por espalhar a devoção a Nossa Senhora Consolata no mundo foi José Allamano, padre da diocese de Turim, reitor do Santuário por 46 anos. Allamano nasceu a 21 de janeiro de 1851 em Castelnuovo d’Asti. Educado na escola de Dom Bosco, e no seminário diocesano do Turim, respondeu ao chamado de Deus ao sacerdócio e foi ordenado a 20 de setembro de 1873.

Em 1880 foi nomeado reitor do Santuário da Consolata e do anexo Instituto de Pastoral. A partir de então, até o fim da vida, sempre desenvolveu sua atividade à sombra do Santuário mariano da diocese. Dotado de um coração universal, em 1901 fundou o Instituto Missões Consolata e em 1910 a congregação das Irmãs Missionárias da Consolata. O carisma das duas congregações é a missão ad gentes e além-fronteiras. No dia 8 de maio de 1902 partiram para o Quênia na África, os primeiros quatro missionários.

Hoje os missionários e missionárias da Consolata estão presentes em 30 países da África, Ásia, Europa e América, com cerca de 950 padres e irmãos, e 550 Irmãs provenientes de diversos países e culturas. A missão destes religiosos e religiosas é anunciar ao mundo todo a Verdadeira Consolação: Jesus Cristo.

Allamano morreu santamente a 16 de fevereiro de 1926, em Turim. Proclamando-o Bem-aventurado, no dia 7 de outubro de 1990, o papa João Paulo II selou o reconhecimento que o povo de Deus tributou ao padre José Allamano com várias expressões: “o santo da Consolata”, “pai providente e piedoso, formador e mestre do clero,” “sacerdote para o mundo”. Após a fase diocesana em Boa Vista Roraima, o processo de canonização foi entregue à Congregação para a Causa dos Santos em Roma que está analisando a documentação sobre o suposto milagre da cura de um indígena, Sorino Yanomami atribuída à intercessão do Bem-Aventurado Allamano.

* Padre Jaime C. Patias, imc, Conselheiro Geral para América.

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