Segundo o Antigo Testamento, a lei de Moisés estabelecia que todos os primogênitos, tanto os das pessoas como os dos animais, deviam ser oferecidos a Deus, prática bíblica que (com referência a pessoas), posteriormente, gerou a tradição do “batismo de crianças”.
Por Guido Boufler *
O que originalmente era um rito de penitência e conversão, (a prática de batizar, ou seja, lavar, banhar) passou a ser praticado posteriormente como rito de apresentação, ou mesmo, de manifestação.
Quanto à crianças – como não podiam ser deixadas aí no templo – elas precisavam ser resgatadas através de uma oferta. As pessoas de mais recursos ofereciam um cordeiro e os pobres, dois pombinhos ou duas rolinhas.
A lei também dizia que a mãe, depois dos quarenta dias do nascimento do filho, (o que no calendário vem a coincidir com 2 de fevereiro, 40 dias depois do dia 25 de dezembro) devia apresentar-se ao Templo de Jerusalém para o Rito da Purificação, o que gerou, no decorrer da história, a memória litúrgica da Purificação de Nossa Senhora.
Quanto a este rito, a reforma litúrgica do Concílio Vaticano II passou a ressaltar mais o sentido bíblico de “apresentação” da criança, aspecto que veio a prevalecer em relação ao sentido penitencial do rito, pelo que a data de 2 de fevereiro, dia de memória mariana, passou à categoria das festas do Senhor, mais conhecida como Festa da Apresentação do Senhor Jesus no Templo, quando a Igreja celebra justamente o cumprimento destas leis por parte de José e Maria em relação ao seu filho Jesus. O Evangelho da festa conta a ida de José e Maria ao Templo, onde encontram o velho Simeão que toma o Menino nos braços e louva a Deus por poder ver o Messias esperado. Vejamos…
Quando se completaram os dias para a purificação da mãe e do filho, conforme a Lei de Moisés, Maria e José levaram Jesus a Jerusalém, a fim de apresentá-lo ao Senhor. Conforme está escrito na Lei do Senhor: “Todo primogênito do sexo masculino deve ser consagrado ao Senhor”. Foram também oferecer o sacrifício – um par de rolas ou dois pombinhos – como está ordenado na Lei do Senhor. Em Jerusalém, havia um homem chamado Simeão, o qual era justo e piedoso, e esperava a consolação do povo de Israel. O Espírito Santo estava com ele e lhe havia anunciado que não morreria antes de ver o Messias que vem do Senhor. Movido pelo Espírito, Simeão veio ao Templo. Quando os pais trouxeram o menino Jesus para cumprir o que a Lei ordenava, Simeão tomou o menino nos braços e bendisse a Deus: “Agora, Senhor, conforme a tua promessa podes deixar teu servo partir em paz; porque meus olhos viram a tua salvação que preparaste diante de todos os povos: luz para iluminar as nações e glória do teu povo Israel” (Lc 2,22-32).
Por isso tudo, a celebração da Apresentação do Senhor é uma festa ao mesmo tempo de Jesus, Maria e José. Diversos aspectos poderiam ser refletidos. Podemos ver José como homem justo e religioso que cumpre as obrigações. Podemos ver Maria, mulher do povo que vai ao Templo para se purificar e consagrar a Deus um ser que já era inteiro de Deus. No entanto, em lugar de ouvir elogios, ouve falar de uma espada de dor a atravessar-lhe o coração. Ela que ouvira do anjo na anunciação que seu Filho seria chamado Filho do Altíssimo, agora, no Templo, deverá meditar numa profecia de que este seu Filho será sinal de contradição.
Outro aspecto que podemos destacar neste evangelho é o fato de que os pais de Jesus são pobres e observam escrupulosamente as leis de Deus. Conclusão importante para nossas famílias: os pais se preocupam em garantir educação, trabalho, posição social para os filhos. Vivemos neste mês, de princípio, a época dos vestibulares para o ensino superior e entramos na fase de compra do material para as aulas. Quanto esforço por parte dos pais para garantirem estudo para os filhos! Mas devem também consagrar os filhos a Deus, ou seja, educá-los para uma vida cristã fiel e coerente com aquilo que está no Evangelho. Já que se aprende mais com os olhos do que com os ouvidos, a vida cristã dos pais é o melhor método de catequese para os filhos. Se os pais rezam em casa, os filhos aprendem a rezar com eles; se leem a bíblia, os filhos saberão procurar nela a luz de Deus para sua vida; se os pais praticam o amor, o perdão, a generosidade e o respeito com os outros, os filhos os imitarão. É assim que os pais consagram os filhos a Deus.
Mais um aspecto a destacar é o próprio centro da festa: Simeão toma o Menino Jesus e proclama que Ele traz a salvação a todos os povos e é a “luz das nações”. Simeão é o símbolo do povo do antigo testamento que esperava o Messias. É justo e piedoso e se deixou guiar pelo Espírito Santo. Ele proclama sua felicidade, sua alegria por ver realizada sua esperança de não morrer sem ver o Salvador prometido. Não lamenta os anos que passaram, mas olha para frente. Simeão também fala de Maria. Ela participará do sofrimento de seu Filho, de sua entrega ao Pai na Cruz. De fato, como ela o ofereceu a Deus no Templo, ela estará junto à Cruz quando o Filho entregar espírito ao Pai.
* Padre Guido Buofler é vigário paroquial em Cinquentenário (RS)