A Ascensão de Jesus marca o início da missão da Igreja, que nunca estará sozinha, mas sempre acompanhada por seu Senhor. O Espírito Santo nos sustenta e nos guia no caminho rumo ao encontro final com Ele. Celebramos hoje, o 55º Dia Mundial das Comunicações Sociais. Missão e comunicação tem tudo a ver.
Por Jaime C. Patias *
O mistério da Ascensão, que estamos celebrando hoje, tem um duplo significado, cristológico e eclesial. Cristológico, porque nos permite contemplar Jesus que, em sua glorificação pascal, se senta ao lado do Pai. “…foi levado ao céu e está sentado à direita de Deus” (Mc 16,19).
Eclesial, porque aquele que sobe ao céu depois de ter descido entrega seus dons à comunidade, como confirmado na carta aos Efésios. Estes dons estão ligados de maneira especial à proclamação da Palavra: de fato, eles despertam na comunidade apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres que alimentam o rebanho com seus ensinamentos (Ef 4, 11).
O final do Evangelho de Marcos (Mc 16, 15-20) confirma esta perspectiva: o Senhor sobe aos céus, mas ao mesmo tempo, Ele continua presente e trabalhando com seus discípulos, que são enviados para anunciar o Reino de Deus a todos. Os sinais são estes: “Expulsarão os demônios em meu nome, falarão novas línguas, manusearão serpentes e, se beberem algum veneno mortal, não lhes fará mal; imporão as mãos aos enfermos e eles ficarão curados” (Mc 16, 17 -18).
Tais sinais comprovam que, no testemunho dos discípulos, a graça do Ressuscitado continua presente e operante no mundo. “Por que você está olhando para o céu?” perguntam os anjos aos discípulos. Mais do que contemplar o céu, devemos perscrutar os sinais do Ressuscitado no meio de nós, reconhecer a sua presença e anunciar o Evangelho em todo o mundo, com a palavra e o testemunho.
Missão e comunicação
A Solenidade da Ascensão é a festa da missão. “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura” Mc, 16,15). Agora toca a nós dar continuidade à mesma missão de Jesus Ressuscitado que volta ao Pai e ao mesmo tempo permanece no meio de nós vivo e atuante.
Missão é comunicação tem tudo a ver. A missão nos coloca no mundo para comunicar a Boa Notícia do Reino, a alegria do Evangelho. É nesta perspectiva que no Domingo da Ascensão celebramos o Dia Mundial das Comunicações Sociais. A jornada foi criada em 1967 pelo então Papa Paulo VI.
A mensagem do Papa Francisco para este ano tem como tema: “Vem e verás (Jo 1, 46). Comunicar encontrando as pessoas onde estão e como são”. Como discípulos missionários, todos somos chamados a ser testemunhas da verdade: “a ir, ver e partilhar”.
A Papa Francisco fala especificamente da profissão do jornalista que, movido pela paixão e pelo desejo de ver e de contar a realidade, tem a coragem de ir aonde ninguém vai, de chamar a atenção para situações difíceis que ficariam esquecidas. Para fazer isso, como o pastor o comunicador deve sentir o “cheiro das ovelhas”, deve “gastar as solas dos sapatos”: descer à rua para verificar pessoalmente, estar com as pessoas, escutar as testemunhas e recolher detalhes “do dia-a-dia” que deem credibilidade às notícias.
Diante do fenômeno das notícias falsas, as chamadas “fake news”, a reflexão do Papa Francisco sobre o tema da verdade, contribui para combater a mentira, a desinformação e a notícia distorcida que causam enormes danos à sociedade e em tempo de pandemia colocam a vida das pessoas em risco.
O “ir e ver” é o chamado a uma comunicação límpida e honesta, que sabe interpretar a verdade dos fatos e das pessoas, sem se contentar com uma informação pré-concebida, pré-fabricada, direcionada e auto-referencial. Como há dois mil anos, a Boa Notícia do Evangelho volta a acontecer hoje, sempre que recebemos o testemunho transparente de pessoas cuja vida foi mudada pelo encontro com Jesus. O desafio que nos espera é o de comunicar comprometidos com a verdade, encontrando as pessoas onde estão e como são.
Francisco conclui a sua Mensagem com uma belíssima oração.
“Senhor, ensinai-nos a sair de nós mesmos,
e partir à procura da verdade.
Ensinai-nos a ir e ver,
ensinai-nos a ouvir,
a não cultivar preconceitos,
a não tirar conclusões precipitadas.
Ensinai-nos a ir aonde não vai ninguém,
a reservar tempo para compreender,
a prestar atenção ao essencial,
a não nos distrairmos com o supérfluo,
a distinguir entre a aparência enganadora e a verdade.
Concedei-nos a graça de reconhecer as vossas moradas no mundo
e a honestidade de contar o que vimos” (Papa Francisco).
* Padre Jaime C. Patias, IMC, é mestre em comunicação e Conselheiro Geral para América.
