“Vinde comigo para um lugar isolado e descansai um pouco”. É o convite de Jesus aos seus apóstolos que a liturgia nos apresenta neste 16º Domingo do Tempo Comum, a condizer com o tempo de férias que alguns de nós têm possibilidade de fazer.
Por Darci Vilarinho *
O Senhor convida-nos a retirar-nos para um sítio isolado e deserto, longe do frenesi do mundo que nos pode sufocar. “Lugar isolado” poderá também significar intimidade. No silêncio podemos aprender melhor a escutar o nosso Deus que passa na brisa de cada dia. O silêncio é a linguagem de Deus. Não há oração verdadeira sem deserto ou silêncio. Só quando a casa estiver arrumada e sossegada, livre de ruídos e de tensões, é que o homem pode comunicar com Deus filial e amorosamente. Quantas ocasiões tivemos nós durante esta epidemia de parar, no confinamento obrigatório. Será que aproveitámos esta ocasião para mais oração e reflexão? Alguns dizem que durante esse tempo tiveram mais dificuldade em concentrar-se. É natural!
Não é fácil, no rebuliço da nossa vida, tomar consciência da necessidade que temos de “repousar um pouco” e de arrumar a casa: parar, questionar-nos, perguntar-nos para onde vamos e o que fazemos, tal como faz o arquiteto numa casa em construção.
Não se trata só de partir para férias, que às vezes, pela maneira como são organizadas, ainda nos causam maior cansaço. Trata-se de dar sentido ao nosso descanso. Trata-se de retirar de cima das costas os pesos que nos esmagam, como faz quem sobe uma montanha, e deixar que a mente, o coração e o espírito respirem à luz da Palavra de Deus que oxigena toda a nossa vida.
Não se trata de fugir às próprias responsabilidades ou de fechar os olhos perante os problemas reais da nossa vida ou da sociedade em geral. Trata-se de encontrar no silêncio apaziguador, na intimidade com Deus e na comunhão com as pessoas a luz nova que ajude a sair dos labirintos em que por vezes nos enfiamos. Há problemas que se resolvem ouvindo a voz do Senhor e comunicando com os outros. Pelo menos aprendemos a relativizar os nossos problemas que normalmente são inferiores aos de tantos outros. O meu problema desaparece quando me esvazio dele para acolher o problema do outro. E mesmo que os problemas não desapareçam é importante sobretudo saber viver com eles.
Também há missionários que durante estes meses param, para descansar. Cansados ou feridos pelas situações por que passaram, não podem voltar para o trabalho sem antes se curarem física, psíquica e espiritualmente. As dificuldades desgastam. É por isso que parar, refletir, estudar, rezar e arrumar a nossa casa interior é condição essencial para que o trabalho da missão dê frutos duradouros.
E o mesmo acontece com qualquer pessoa desgastada pelo stress de cada dia. O tempo que nos for concedido para o descanso do corpo e do espírito possa ser aproveitado para um rejuvenescimento de toda a nossa vida, para que possamos crescer na intimidade com Deus e na comunhão uns com os outros e assim a nossa vida vivida a favor dos outros possa render na missão que o Senhor nos confiou.
O Evangelho conclui que Jesus, o Bom Pastor, vendo tanta gente desnorteada e sem pastor, sentiu compaixão por ela e começou a evangelizá-la, indicando o caminho a seguir. Deixa que os seus amigos descansem, mas Ele continua a servir porque ama mais e melhor. E a sua compaixão pela multidão encontrará o seu ponto culminante no momento em que Jesus dará a sua vida por toda a humanidade, com sua morte na Cruz.
* Padre Darci Vilarinho, IMC, Fátima, Portugal. Publicado no Facebook em 16 de julho de 2021.