A espiritualidade ecológica do Bem-aventurado José Allamano

Falar sobre “espiritualidade ecológica do Bem-aventurado José Allamano” à primeira vista pode soar estranho. Isto porque, tendemos a pensar que a sua espiritualidade é restrita aos limites do significado religioso da palavra “espiritualidade”.

Por Charles Orero *

A espiritualidade ecológica de Allamano é vista em seu uso no que chamamos de “linguagem ecológica” em seus escritos espirituais. Para Allamano, ecologia ou natureza é comparada à vida de um missionário da Consolata. Em outras palavras, assim como a ecologia é a fonte e o suporte da vida, também o é a missão de um missionário da Consolata. Além disso, assim como a ecologia obtém sua origem de Deus, também a vocação e a missão de um missionário da Consolata.

Como São Paulo Apóstolo, Padre Allamano aplica alegoricamente terminologias ecológicas em seus discursos espirituais. São Paulo em sua carta aos Romanos, ao escrever aos gentios diz: “Porque se Deus aceitou tomar-te a ti, que vivias tão afastado e eras por natureza ramo de uma oliveira brava, e te enxertou na oliveira mansa, é evidente que será mais fácil colocar de novo os judeus na sua própria oliveira (Rom 11,24). Allamano aplica esta linguagem ecológica paulina quando fala dos deveres dos Superiores e da necessidade de formação. Tais terminologias ecológicas incluem:

Plantas ternas

O Bem-aventurado Allamano se refere frequentemente aos membros do Instituto usando terminologias ecológicas. Entre essas terminologias estão “plantas ternas ou delicadas”. Ele afirma que os missionários da Consolata são as plantas ternas no jardim da Igreja. Portanto, o papel dos superiores em relação a eles são alegoricamente comparados aos termos ecológicos “corte e poda”. Esta função dos superiores está ligada ao desejo do Senhor que quer que os missionários cresçam bem, retos e prósperos. O pré-requisito deste crescimento é o processo ecológico de cultivo.

A Vinha

Allamano aplica alegoricamente o termo “videira” para se referir aos Missionários da Consolata. Ele afirma que, “na primavera, é próprio do agricultor cortar e aparar a videira”. A videira chora, mas ele pensa nos belos ramos que vão crescer, e não se arrepende. O termo “primavera” é usado alegoricamente por Allamano para se referir ao período de formação no qual, os superiores (jardineiros) “cortam tudo o que é defeituoso” nos missionários para que um dia eles possam produzir frutos abundantes de santificação e trabalho apostólico.

Conversando com os seminaristas que iam de férias, Padre Allamano os aconselhava dizendo: “cuidado onde andam. Fiquem no caminho. Não andem por onde está semeado e não recolham nada, mesmo que esteja no chão”. Esta exortação de Allamano mostra que ele é um homem muito preocupado com a ecologia. Em outras palavras, o Padre Allamano instrui seus Missionários a não arruinar o curso normal da ecologia.

Hoje, quando a humanidade enfrenta uma grave crise ecológica, a espiritualidade ecológica do Padre José Allamano é indispensável no cuidado da Casa Comum, pois mesmo que Deus tenha criado tudo sozinho, Ele nos legou a missão do cuidado ecológico. Essa visão está plena sintonia com a ecologia integral proposta pelo Papa Francisco em sua Encíclica Laudado sì.

* Padre Charles Orero, IMC, é queniano e estuda espiritualidade na Gregoriana em Roma.

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