Único remédio para o ódio e as separações é o amor

A Liturgia da Palavra deste Domingo (Mt 5,38-48) traz-nos grande surpresa, porque nos convida a ir mais além do que se preocupar simplesmente com a observância das leis humanas, baseadas nos direitos e deveres.

Por Joaquim Gonçalves *

Jesus propõe que se olhe para a vida de um modo diferente, tendo como referência fundamental o amor. Ele veio revelar o Deus Pai que nos ama sem cobrança nenhuma, mas quer que nos convertamos para sairmos do pecado e do puro legalismo que nos atrai com intensidade para outros deuses. Jesus quer que se ponha de lado a lógica da violência, para podermos mergulhar na profundidade e na riqueza do amor. Se abraçamos a condição de filhos de Deus, já a partir do Batismo, não podemos mais viver um amor simplesmente afetivo, de simpatia, com superficialidade e sempre tendencioso para obter alguma compensação.

Para nos ensinar a percorrer o caminho da busca da perfeição (sede perfeitos como o vosso Pai é perfeito), Jesus, que já conhece bem o sistema de relacionamentos superficiais no seu ambiente social e religioso, traduz a mentalidade dessas pessoas com a expressão: “vivem a vida com a mentalidade de “olho por olho e dente por dente”. Diríamos nós hoje: “o que é meu é meu e o que é teu é teu”. Resumidamente são quatro os exemplos do como viver o amor bem expresso nas Bem-aventuranças. “Se te baterem na face direita, oferece-lhe também a esquerda”; “se alguém recorrer ao tribunal para ficar com a túnica (que foi emprestada no tempo do frio), oferece-lhe também o manto” (a capa); “se te pedirem algo em empréstimo dá”; e se alguém te pede para o acompanhares uma milha aceita até duas” (parecia ser uma perda de tempo). Enfim, na visão de amor pelo próximo sem distinção, a vida nunca se recusa a fazer o bem para o outro gratuitamente.

Amar o outro pela sintonia sentimental e pela simples mútua aceitação não revela nada de novo em relação ao que Deus nos pede. A novidade está no amor aos inimigos, aos que nos odeiam. Jesus vai ao mais alto desafio dizendo: “amai os vossos inimigos, orai pelos que vos perseguem para serdes filhos do vosso Pai que está nos céus”; “se amardes aqueles que vos amam que recompensa tereis? Não é assim que procedem os publicanos”? Jesus sempre pede para que não se tenha como suficiente observar exteriormente como regras de vida, as Bem-aventuranças. Ele não veio trazer lei nova, mas “lei surpreendente”.

É nessa proposta de vida que se constrói o Reino de Deus, a partir da terra e se “renasce em Cristo” como escreveu e ensinou São Paulo. Somente o amor desarma a agressividade, o ódio, o descontentamento o recurso à crítica do outro para transformar os corações maus, endurecidos, insatisfeitos, em corações sinceros, abertos alegres e generosos para com todos. A missão de Jesus, que Ele recomendou aos Apóstolos para darem continuidade, coloca como prioridade a solidariedade com o mais pobre, o abandonado, o doente. O amor não se limita apenas em evitar as ofensas; precisa de gestos concretos para inverter a onda do ódio e da violência, os relacionamentos difíceis e pouco fraternos, entre membros da mesma comunidade cristã. O cristão não pode recorrer à violência e à vingança para resolver qualquer situação de injustiça que o atinge.

É na atitude de perdão que na nossa vida se torna visível, perante o próximo, a presença de Deus, que é sempre misericordioso. Se assim procedermos, nossa vida espelha o rosto do Pai celeste, que é misericordioso para com todos. E é deste modo que podemos ser plenamente perdoados por Deus de todos os pecados e termos a certeza de que alcançaremos o que acreditamos e praticamos.

* Padre Joaquim Gonçalves, IMC, missionário em Fátima, Portugal.

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