Homilia realizada na missa de Ação de Graças pela Canonização de São José Allamano, na Catedral Metropolitana de Feira de Santana, Bahia, no dia 24 de outubro de 2024
Por Dom Zanoni Demettino Castro
Queridos irmãos e irmãs em Cristo,
Hoje celebramos com profundo júbilo a canonização de São José Allamano, fundador dos Missionários e Missionárias da Consolata, cujo trabalho missionário resplandece, especialmente aqui em nossa Arquidiocese, onde eles têm se dedicado de forma exemplar. A presença dos Missionários na Paróquia Santíssima Trindade e na Primeira Paróquia Quilombola do Brasil, São Roque da Matinha dos Pretos, revela o zelo missionário herdado de Allamano, que buscava sempre a consolação para os pobres e marginalizados.
Neste contexto, gostaria de ampliar nossa reflexão sobre a missão dos Missionários da Consolata, particularmente entre o povo Yanomami, na selva amazônica. Desde 1965, a Consolata chegou à região de Catrimani, próxima à fronteira entre Brasil e Venezuela, com o propósito claro de proteger e cuidar da vida desse povo ameaçado, os Yanomami. Enfrentando as ameaças constantes da mineração ilegal que destrói suas terras e envenena seus rios, os missionários desenvolveram um modelo de missão baseado no respeito, no diálogo e na defesa da vida, da cultura e do território desses povos.
Essa é uma missão que não se realiza com gritos ou alardes, mas no silêncio e no diálogo profundo, como nos diz a primeira leitura de Isaías: “Não gritará, nem levantará a voz, nem se fará ouvir nas praças.” Esse cuidado paciente e amoroso gerou laços de amizade e alianças sólidas em prol do bem viver, como insistia Dom Roque Paloschi, ex-bispo de Roraima. O exemplo da Missão Catrimani é um verdadeiro privilégio para a Igreja de Roraima e para toda a Igreja.
São José Allamano, com seu espírito missionário e apostólico, deixou um legado que transcende fronteiras. O milagre que culminou na sua canonização nos remete diretamente ao povo Yanomami, quando, em 1996, o indígena Sorino, atacado por uma onça, teve sua vida salva por um milagre atribuído à intercessão de Allamano, após fervorosas orações das Irmãs Missionárias da Consolata. O milagre não foi apenas uma cura física, mas um sinal da força da fé e da dedicação missionária em meio àqueles que mais precisam.
Este episódio nos lembra que a missão, como pregava São José Allamano, é o ato de colocar a vida e o Evangelho no centro de tudo. Ele nos ensina que a missão é um serviço de caridade e amor para todos os povos, especialmente os mais vulneráveis, como os Yanomami, tantas vezes marginalizados por uma sociedade que coloca o lucro acima da vida.
Queridos irmãos e irmãs, ao celebrarmos esta canonização, somos convidados a continuar essa missão de cuidar da vida em todas as suas formas, de defender a dignidade dos povos, de respeitar as culturas e as diferenças, sempre movidos pelo ardor missionário que caracterizou a vida de São José Allamano. Que sua intercessão continue a proteger os povos indígenas da Amazônia e que seu exemplo nos inspire a sermos portadores de consolação e esperança para todos os povos.
Que o Espírito Santo nos inflame com o mesmo ardor apostólico, para que, assim como São José Allamano, possamos levar ao mundo a verdadeira consolação e anunciar com fortaleza a glória de Deus a todos os povos.
São José Allamano, rogai por nós!