Faleceu no dia 28 de abril, o padre José Martín Serna Jurado, missionário da Consolata colombiano que desde 2022 era mestre de noviços no Noviciado continental Santo Oscar Romeno em Manaus. Tinha 57 anos de idade dos quais, 31 de profissão religiosa e 26 de sacerdócio.
Por Jaime C. Patias *
Discreto e generoso, o religioso era plenamente identificado com o carisma e a espiritualidade do Fundador dos Missionários e Missionárias da Consolata, São José Allamano, conforme atestam vários testemunhos sobre a sua vida e missão.
“O padre José Martín foi um confrade, um missionário e um amigo. Porque só quem o conheceu de verdade, percebeu que estava diante de alguém experiente na missão. Um irmão de quem sempre se esperava um ensinamento de verdadeiro mestre”, afirmou o padre Paulo da Conceição Mzé, Superior Regional IMC Brasil em sua mensagem.
“A sua partida deixa um vazio entre nós. Na certeza da feliz ressurreição, queremos dizer o nosso muito obrigado por partilhar o dom mais precioso que é o dom da vida. Em nome de todos os missionários da Consolata no Brasil, muito obrigado a você e à sua família por esse dom ao Instituto. Descanse em paz!”, completou o Superior.
Antes do sepultamento no cemitério São Francisco em Manaus, esta terça-feira, 29 de abril, foram celebradas duas missas na Capela São José, na Área Missionária Sagrada Família de Nazaré onde o padre servia como vigário. Uma missa foi presidida por dom Samuel Ferreira, OFM, bispo auxiliar de Manaus, outra por dom Zenildo Lima e dom Hudson Ribeiro, bispos auxiliares de Manaus. Participaram 15 sacerdotes concelebrantes, diversas religiosas e uma multidão de fiéis emocionados e agradecidos, da Área Missionária, paróquia Santa Luzia e da arquidiocese de Manaus. A Sra. Maria Nelly, mãe do padre Martin, seus irmãos, parentes e amigos, acompanharam a transmissão das celebrações ao vivo desde Manizales na Colômbia.
“Ainda animados pelas alegrias pascais, somos desafiados a compreender a profundidade da Páscoa através do mistério da morte. Nos reunimos como comunidade de fé, esperançosa e pascal. O silêncio do padre José Martin marcou profundamente. Hoje, nós silenciamos para admirar o seu silêncio que permanece ainda mais profundo”, disse dom Zenildo Lima, no início da celebração. O bispo transmitiu a solidariedade do Cardeal Leonardo Steiner, atualmente em Roma para o Conclave.
“Toda vez que um missionário alcança o céu, a missão se torna fecunda. Com esta Eucaristia desejamos que a vida missionária do padre José Martín gere fecundidade nessas comunidades e nesta Igreja. Sirva também, para a nossa consolação pois não é justo que um missionário da Consolata nos deixe desconsolados”, refletiu o bispo.
Padre José Martín sofreu com problemas de saúde poucos dias antes da Semana Santa. Recuperou-se o suficiente para celebrar a Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor com as comunidades. Nos dias sucessivos, seu quadro se agravou, tendo sido levada para a UTI. Infelizmente não resistiu e veio a falecer.
No dia 13 de março de 2024, padre Martín Serna celebrou 25 anos de ordenação sacerdotal com uma Eucaristia na comunidade São Miguel, na Área Missionária Família de Nazaré, em Manaus. Leia também: Jubileu sacerdotal do padre José Martín Serna
Palavras do Conselheiro Geral durante a homilia
“Ele acreditou e proclamou que Jesus é a Ressurreição e a Vida. Isso reforça a firme esperança de que a ressurreição começa aqui, com a vida, até atingir sua plenitude no momento preparado por Deus. Nos conforta saber que a ressurreição do padre Martín começou quando ele decidiu dedicar sua vida à proclamação do Evangelho”, destacou o padre Juan Pablo de los Ríos, IMC, Conselheiro Geral, durante a homilia na missa das exéquias. Também recordou, as origens camponesas do padre Martín e que era primo do padre Ariel Granada Serna, outro missionário da Consolata que motivou a sua vocação e que foi assassinado em Moçambique durante a guerra civil em 1991.
Após a ordenação sacerdotal, viveu sua missão além-fronteiras na Costa do Marfim por 19 anos, na Itália e Colômbia, por um breve período, e desde 2022 em Manaus. “Padre Martín era um homem caracterizado por sua humildade, simplicidade, proximidade, disponibilidade e serviço; além de ser uma pessoa tranquila, serena e silenciosa. Certamente, ele entendeu bem as palavras de São José Allamano, de que “o bem deve ser feito em silêncio”, sublinhou para Juan Pablo.
“A vida do padre José Martin tem sido como a de uma semente, que hoje finalmente será plantada na terra. Acreditar que Jesus é a Ressurreição e a Vida nos encoraja a confiar que dessa semente plantada, uma nova vida brotará; a semente plantada por Martín continuará a gerar vida”, testemunhou o Conselheiro Geral. “Muito obrigado querido mestre de noviços, porque hoje você já deu a melhor de todas as lições da sua vida, o melhor de todos os seus ensinamentos: uma vida vivida e dedicada à missão”.
Testemunho de um noviço
Um de seus noviços assim o descreve: “Foi um homem simples, prestativo e acessível, que soube acompanhar, motivar e abraçar nossos propósitos e sonhos missionários. Um coração cheio de amor pelas pessoas, sempre disposto a servir abnegadamente, dedicando-se sem reservas à missão e à vida fraterna. Obrigado por tudo, especialmente pelo seu zelo missionário, pelo seu exemplo de generosidade e pela sua fé inabalável”.
No mês de setembro de 2024, padre Martín Serna participou do curso de formação permanente para formadores realizado em Roma e deixou o seu testemunho de vida e missão. Leia também: Noviciado de Manaus, padre José Martín Serna
Mensagem da Família da Colômbia
Johana Serna, uma de suas sobrinhas enviou a seguinte mensagem: “Querida comunidade, em nome da nossa família, gostaria de expressar os nossos sinceros agradecimentos por todo o amor, respeito e apoio que deram ao padre Martin ao longo dos anos.
Desde o primeiro dia, não só o acolheram como pastor espiritual, mas também como parte das vossas vidas e dos vossos corações. Ele sentiu-se sempre em casa entre vós e falou-nos muitas vezes do afeto, da fé partilhada e das experiências desta comunidade.
Hoje, ao despedirmo-nos dele, sentimo-nos confortados por saber que não estava sozinho, que viveu a sua vocação rodeado de pessoas que o valorizaram e o acompanharam até o seu último suspiro. Obrigado por estarem presentes, pelas vossas orações, pelo vosso carinho constante e por serem a sua família alargada. Que Deus vos recompense por tudo. A sua marca vive em cada um de vós. Com gratidão e afeto”.
O colega de missão, padre Armando Olaya
Padre Armando Olaya, que foi um dos seus formadores, superior e companheiro de vida e de missão. “Há pessoas com as quais nos sentimos bem e nos perguntamos o que é que nos faz sentir assim. Creio que é um bem-estar que vem de um coração limpo, simples, sem outra pretensão que não seja a de servir, sobretudo os mais pobres.
Sempre me senti bem com José Martín Serna. Chamava-me a atenção a forma como ele se apresentava: alguém imperceptível. Um sorriso tímido, o seu ligeiro aceno de cabeça. A sua figura denotava alguém cheio de uma força interior que atraía. Gerava confiança, um espaço humano aberto, como um nascer ou um pôr do sol tranquilo.
O tempo mais bonito da missão na Costa do Marfim, concretamente na periferia da cidade de San Pedro, partilhei com o Martin. Os pobres nos ajudaram a amar o Senhor da Missão, a sermos irmãos, a viver na nossa casinha de portas abertas, a dormir nas aldeias, a dançar e a cantar. Não senti qualquer resistência, crítica ou rejeição em Martin. Muçulmanos, cristãos de todas as confissões, homens e mulheres de rituais tradicionais. Ele acolheu todas estas expressões espirituais e ajudou-me a apreciá-las de coração.
Viveu tudo isso e depois partilhou na formação na Costa do Marfim, na Colômbia e finalmente no Brasil com os Noviços. Esta última fase da sua longa e dolorosa doença, assumiu sem queixas nem rejeições, convicto de que a sua vida e o seu ministério eram totalmente para o Senhor, ao serviço do povo e do Instituto”.
Mensagem da REPAM
O Secretário Executivo da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM), Irmão João Gutemberg Sampaio, enviou uma nota à família Consolata. “Recebemos com pesar a notícia do falecimento do padre José Martín. Uma dor grande a morte do dedicado missionário. Ele que tanto cuidou para transmitir a fé cristã e o carisma da Congregação através da pastoral e da formação. Guardaremos sempre o seu testemunho de dedicação e simplicidade. O bom Deus e a boa Mãe o acolham na feliz eternidade! Recebam a solidariedade dos/as amigos/as da REPAM”.
Biografia
José Martín Serna Jurado, IMC, nasceu em Marulanda, Caldas, Colômbia, no dia 11 de janeiro de 1968. Filho de Luiz Eduardo Serna (em memória) e Maria Nelly Jurado, teve oito irmãos. Foi batizado em Marulanda onde foi coroinha, fez catequese e os sacramentos.
Concluiu seus estudos no colégio frei Cardona, em Marulanda, e inspirado no exemplo da mãe e de seu primo, padre Ariel Granada Serna, IMC, assassinado em Moçambique, ingressou no propedêutico da Consolata aos 19 anos, cursando posteriormente filosofia em Bogotá (Colômbia), noviciado em Bucaramanga onde emitiu a sua primeira profissão a 9 de janeiro de 1994. De 1995 a 1998 estudou teologia em Roma (Itália) e em seguida, trabalhou na pastoral em Pirané na Argentina sendo ordenado sacerdote no dia 13 de março de 1999, no Santuário N. Sra. de Fátima em Manizales (Colômbia).
No ano 2000 foi enviado para Costa do Marfim, África onde trabalhou por 19 anos nas missões, na formação e na direção do IMC como conselheiro e vice superior. (De 2011 a 2013 fez estudos de missiologia em Roma). Em 2019 regressou à Colômbia onde foi formador no seminário filosófico (2020-2021). Foi nomeado mestre de noviços do Noviciado continental São Oscar Romero em Manaus aonde chegou em 2022. Era também, vigário da Área Missionária Família de Nazaré na periferia da cidade.
* Padre Jaime C. Patias, IMC, Secretariado para a Comunicação, com informações do padre Júlio Caldeira em Manaus.
