O missionário da Consolata padre José Martín Serna Jurado celebrou no dia 13 de março seus 25 anos de sacerdócio, vividos na África e na Amazônia brasileira.
Por Júlio Caldeira *
Na noite de quarta-feira, 13 de março, a comunidade São Miguel, na Área Missionária Família de Nazaré, em Manaus, acolheu a celebração eucarística de ação de graças pelos 25 anos de sacerdócio do Pe. José Martín Serna Jurado, missionário da Consolata colombiano que é mestre dos noviços em Manaus e vigário paroquial da área missionária.
Neste ambiente amazônico que o acolhe nos últimos anos, expressada nos momentos prévios pelas bênçãos de Deus que enviou uma forte chuva, o padre expressou sua alegria e vários passos que realizou na sua vida missionária e sacerdotal.
José Martín Serna Jurado nasceu em Marulanda, Caldas, Colômbia, no dia 11 de janeiro de 1968. Filho de Luiz Eduardo Serna (em memória) e Maria Nely Jurado, teve oito irmãos. Foi batizado dois dias depois do nascimento na igreja N. Sra. Das Mercês, em Marulanda, onde posteriormente foi coroinha, fez catequese e os sacramentos.
Concluiu seus estudos no colégio frei Cardona, em Marulanda, e inspirado pelo exemplo de seu primo Pe. Ariel Granada, missionário da Consolata assassinado em Moçambique e o exemplo da mãe, ingressa no propedêutico da Consolata aos 19 anos, cursando posteriormente filosofia em Bogotá (Colômbia), noviciado em Bucaramanga (ambos na Colômbia) e teologia em Roma (Itália). Realizou sua profissão religiosa como missionário da Consolata no dia 9 de janeiro de 1994 em Bucaramanga e foi ordenado sacerdote no dia 13 de março de 1999, no Santuário N. Sra. De Fátima, em Manizales (Colômbia).
Depois do belo trabalho missionário de 19 anos na Costa do Marfim, atualmente é mestre dos noviços do Noviciado Latino-americano São Oscar Romero, e vigário paroquial da Área Missionária Família de Nazaré, em Manaus, no coração da Amazônia brasileira.
A seguir, publicamos uma entrevista sobre sua vida missionária e sacerdotal:
Pe. Martin, o que motivou o senhor pra ser um sacerdote missionário?
O evangelho escolhido para a celebração foi do chamado de Jesus a seus discípulos. Minha mãe sempre foi um exemplo pra minha vida, especialmente quanto à vida de fé. Também recordo muito do chamado de Deus na minha vida, na juventude, a partir do meu primo missionário da Consolata [Pe. Ariel Granada]. Deus usou dele pra me chamar. Eu seguia minha vida tranquilamente em minha comunidade com os afazeres num povoado chamado Marulanda, Colômbia. Um dia Pe. Ariel afirmou que esperava que eu fosse alguém na vida, seguindo a Jesus.
Quando meu primo Ariel foi assassinado em Moçambique, eu senti que suas palavras se faziam realidade na minha vida. Eu queria continuar a missão que ele tinha começado. Foi aí que Deus, pela ação do Espírito Santo, me fez caminhar em busca da consagração a Ele na vida missionária. Tenho sempre a inspiração das palavras do nosso fundador [Bem-Aventurado José Allamano]: “Primeiro santos, depois missionários”. Estes sempre foram e são inspirações na minha vida.
E como o senhor foi parar na África?
No caminho de formação com os Missionários da Consolata, sempre tive o sonho de ser missionário fora da minha pátria, no Continente africano, como fez o meu primo Ariel. Estive trabalhando e estudando bem na Colômbia, Itália e Argentina, mas sempre vinha aquela inspiração de Deus: “África”. E isso foi o que pedi, quando escrevi a carta ao Superior [Geral] pedindo pra ser ordenado: “estou muito feliz em trabalhar na Argentina, mas gostaria de ir pra África”.
No dia 13 de março de 1999, fui ordenado sacerdote em Manizales, no Santuário N. Sra. De Fátima. Aí recebi a grande notícia: você foi destinado a trabalhar como missionário na Costa do Marfim, África. Tive, assim, a graça de ser atendido no grande sonho missionário. Depois de estudar francês no Canadá, fui para Costa do Marfim, onde vivi 19 anos, sendo vigário, pároco, animador missionário e formador. Sou muito agradecido às comunidades africanas por onde passei, pois elas me formaram como missionário e sacerdote que sou hoje.
O senhor diz que aprendeu muito na África, sua “universidade da vida”. O que mais te marcou a vivência missionária na Costa do Marfim?
Quando estudamos nas grandes Universidades aprendemos muitas coisas. Eu estudei na Colômbia e em Roma, na Gregoriana, também especializando em espiritualidade. Mas chegando na África eu entrei na ‘universidade da vida’. Esta universidade não é feita de famosos professores, mas de sábias mulheres que davam seu testemunho de vida e, direta e indiretamente, nos formavam para a missão.
Ainda tenho na mente e no coração as belas visitas que realizava aos povoados: ia quarta-feira e voltava domingo. Quantos belos encontros e aprendizados! Quando eu via as pessoas simples que caminhavam 2, 3, 4 horas para chegar à celebração, suas vidas de sacrifício e fé animavam muito meu espírito missionário e eu me dizia: “se eles se esforçam tanto, eu devo me esforçar ainda mais”.
Quais são as atitudes que deve ter um missionário?
Uma das primeiras atitudes do missionário ao chegar num lugar é se esforçar para aprender a língua e os costumes, mesmo que tenha que dedicar 2 ou 3 anos para isso. É bonito e significativo escutar das pessoas, depois de tudo que viveu: “Padre, o senhor é um de nós!”
Entrando na realidade das pessoas, um consegue evangelizar efetivamente. Hoje em dia, sou agradecido por tudo que fui aprendendo na missão. Estudei em Universidades na Colômbia e na Itália muitas coisas; mas aprendi a ser missionário na ‘universidade’ da vida, com o exemplo e ensinamentos das sábias senhoras da missão na Costa do Marfim, como tinha aprendido de jovem com minha mãe na Colômbia.
A missão não é fácil, ainda mais com as responsabilidades que um vai assumindo. Mas quando se trabalha em comunhão, se vive muito melhor.
E depois da África, como tem sido sua vida nos últimos anos?
Depois de quase 20 anos na África, passei um ano na Colômbia e os últimos três aqui no Brasil. Estive aprendendo a língua e os costumes daqui, e ainda estou aprendendo muito. Sempre aberto a partilhar a fé e a vida com aqueles que encontro, especialmente aqui na Área Missionária Família de Nazaré e no Noviciado, onde estou há 2 anos e 3 meses.
Mas também nas comunidades indígenas, que tem muitas realidades iguais ou parecidas as africanas. Para isso é importante manter boas atitudes pra chegar a eles, entre elas a paciência. É algo que sempre peço ao Senhor, o dom da paciência, de escutar e depois poder ajudar no que seja necessário, com o testemunho de vida.
Outra coisa importante na minha vida como sacerdote é a pontualidade. Eu sempre procuro chegar 30 minutos antes pois sempre tem algo a organizar ou alguma pessoa que necessita falar algo. Isso me ajudou muito na missão, me ajudou muito a compreender as pessoas e as realidades onde estou. Devemos sempre pedir essa graça da pontualidade e da disponibilidade de estar com as pessoas.
Pra concluir, que mensagem nos deixaria?
Poderia contar ainda muitas coisas, pois me vem muitas lembranças de todos estes anos. Pra concluir reafirmo um gesto que fiz no momento da minha primeira homilia, na minha comunidade de origem, em Marulanda [Caldas, Colômbia].
Lembro que havia muitas pessoas “importantes”, autoridades civis e outras pessoas importantes da sociedade e da comunidade. Mas comecei agradecendo a todas as pessoas que conviveram comigo, que me conheciam como “negrito”, e me acompanharam em todos os anos de preparação ao sacerdócio.
Na sua simplicidade, essas pessoas marcaram e seguem marcando minha vida, como vocês agora. Todos precisamos de pessoas que nos ajudem e acompanhem. Por isso valorizemos as boas amizades e exemplos que recebemos na vida, pra que sejamos bons e perseverantes na vocação que Deus nos concede. Muito obrigado por fazer parte da minha vida missionária e sacerdotal.
* Pe. Júlio Caldeira é mestre em comunicação e missionário na Amazônia.