Padre Franco Gioda: uma vida feita missão

Padre Franco Gioda com comunidade cristã em Moçambique

Todo missionário ou missionária sonha morrer na terra onde viveu a missão e ser enterrado à sombra do baobá (árvore), no meio do povo que tanto ama.

Por Sando Faedi *

Este não foi o destino do Padre Franco Gioda, IMC, falecido no dia 17 de outubro, nem o nosso: o de acompanhar em multidão o corpo de alguém que serviu a missão com um ardor excepcional.

Toda a vida do Padre Franco foi tecida com missão: desde que deixou o seminário diocesano em Turim para se tornar missionário da Consolata.

Os anos que passou na Itália, sua terra natal, em formação, animação e liderança, foram também entrelaçados com a missão. Mas o seu tempo em Moçambique foi muito mais intenso.

Missão de presença e anúncio

Primeiro no Niassa, durante a longa e dolorosa guerra civil. Quando todos estavam em alerta, por medo de emboscadas ou assaltos, Padre Franco não deixou de visitar comunidades cristãs em aldeias remotas. De bicicleta ou a pé, em caminhos intransitáveis, com sol ou chuva, fazia dias e dias de caminhada para encontrar as pequenas comunidades, rezar, celebrar, dar coragem e esperança: “Deus não te abandona, estou aqui em Seu nome”.

Mais de uma vez foi surpreendido por ataques da guerrilha, tiroteios e pilhagens. E os cristãos esconderam-no para que não o descobrissem. E quando o assalto terminava, todos, cristãos e não cristãos, o saudavam: “Deus protegeu-nos da morte, porque estavas aqui conosco! Mas, Padre, porque veio até aqui?”. E ele segurando um crucifixo respondia: “Estou aqui por Ele!”

“Ele” foi a razão da vida missionária do Padre Franco. Nos últimos anos, tendo passado a idade de 70 anos, mas sentindo-se ainda jovem, fundou com dois outros irmãos a Missão de Fingoé, na diocese de Tete. Fingoé é a capital de uma região com 30.000 quilómetros quadrados, do tamanho do Piemonte e da Ligúria juntos. Estava sem presença missionária desde 1974. E o Padre Franco visitava diariamente as aldeias, primeiro de carro, depois de moto, e depois a pé, de acordo com as possibilidades que as chamadas estradas permitiam. Ao encontrar alguém, ele perguntava: “amigo, sabe se alguém aqui é cristão?”. “Parece-me que na família que vive naquela casa ali, alguém é cristão, mas não tenho a certeza, porque não temos missionários aqui… Eu também estudei com os padres, mas há muitos anos atrás…”. E o Padre Franco então convidava: “Não gostarias de se encontrar com outros e conhecer Deus e Jesus juntos?” E assim ele começou com 4-5-10 pessoas. Depois ia para outra aldeia, e outra, e outra…. Dezenas de aldeias que hoje são pequenas e grandes comunidades cristãs no grande território que compõe a missão Fingoé.

O Padre Franco acreditava na importância da “presença” e, à custa de não ter um único dia para respirar, visitava continuamente todas as comunidades, mesmo as mais pequenas. O “jovem” Padre Franco não se assustou com os caminhos, as encostas, as subidas, a chuva… Ele – Jesus – tinha de ser conhecido e amado por todos.

Com orgulho, o Padre Franco mostrou o mapa das suas aldeias. Ainda não há um mapa, mas ele tinha identificado a todos, com nomes, habitantes, distâncias, catecúmenos, cristãos… O mapa do tesouro… as suas comunidades!

Formação de catequistas

A outra pedra angular da sua missão foi a formação de catequistas aos quais dedicou tempo e energia. Fundou o Centro Catequético em Uncanha, onde não bastava que os catequistas conhecessem a Bíblia, mas tinham de ser homens e mulheres de Deus, capazes de dar testemunho do Evangelho que pregavam com as suas vidas e depois ter um verdadeiro espírito missionário para sair e evangelizar as comunidades.

Em Fingoé, o Padre Franco viveu a missão “como sempre sonhou”, como ele próprio dizia, onde se sentiu rejuvenescido por poder dar tudo de si pelos seus irmãos em nome do Evangelho.

Missa de exequial de Padre Franco Gioda na Igreja do Bem-aventurado Allamano em Turim, Itália.

E quando foi enviado para a cidade de Tete para estabelecer a nova missão de São Paulo, aceitou com relutância, por obediência… sentiu falta do seu povo… Mas quando percebeu que São Paulo não era apenas a periferia da cidade, mas também uma grande região entre os rios Zambeze e Luenha, que poucos missionários tinham visitado ao longo dos anos, tornou-se animado e novos horizontes se abriram para ele aos 80 anos de idade. Duas vezes por semana, com um grupo de jovens e alguns idosos, ele entrava na região… deixando o seu carro algures, e depois caminhava até chegar a uma aldeia, e lá perguntava: “amigo, sabes se…”.

Lá surgiram 22 novas comunidades nos últimos dois anos. Comunidades que já construíram as suas próprias capelas, um sinal da presença do Senhor e da fé de um povo humilde e crente. 

Um estilo de missão morre com ele. A missão que anuncia um Nome, um Mistério, um Sentido, uma Vida… o Senhor Jesus. Ele, Aquele que enobrece, aproxima as pessoas e as faz melhorar.

Que Ele receba o seu missionário em seus braços e o deixe ver a beleza do seu Rosto.

Padre Sando Faedi, IMC, trabalha na diocese de Tete, Moçambique.

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