O que me incomoda do Papa Francisco

Francisco, há doze anos que o ouço e observo a forma como dirige a Barca de Pedro, e quero dizer-lhe porque me incomoda:

Por Humberto Guzmán Parra *

  • incomoda-me a tua simplicidade que confronta as falsas riquezas em que coloco o meu coração.
  • incomoda-me a tua alegria que me recorda como é belo ser cristão.
  • incomoda-me o teu sentido de humor que desinfla meu ego para aprender a rir de mim próprio.
  • incomoda-me a tua pobreza, que me fez olhar para os pobres e descartados do nosso mundo, com os quais Jesus está.
  • incomoda-me a tua autenticidade que rompe protocolos, porque põe em causa o meu “dever ser” para me abrir e me aproximar da realidade do mundo.
  • Incomoda-me a tua misericórdia que me fez sentir necessitado do amor de Deus e saber que sou o seu filho amado.
  • incomoda-me a tua audácia contagiante que faz os jovens sairmos para a rua para “fazer confusão”.
  • incomoda-me a tua compaixão que aceita “todos, todos, todos” na Igreja, e abriu o meu coração para aprender a amar incondicionalmente.
  • incomoda-me a tua familiaridade com a humanidade, pois tinha-me esquecido que somos todos irmãos e irmãs em Deus.
  • incomoda-me o teu silêncio orante, porque senti ternura ao ver-te falar com Deus, como um amigo fala com um amigo.
  • incomoda-me o teu amor pela Casa Comum, porque recorda-me como sou pequeno e limitado.
  • incomoda-me a tua humildade em reconhecer os teus erros, porque isso confronta a “falsa imagem” de quem eu pensava que era.
  • incomoda-me o teu pedido de perdão pelos pecados da Igreja, porque me lembraste que também eu esqueci o amor de Deus por mim.
  • incomoda-me o teu desejo de caminhar em comunidade, que desarma a minha ambição e põe à prova a minha solidariedade com toda a Igreja.

Mas o que mais me incomodou, querido Papa Francisco, foi que me teres ensinado a olhar para Jesus de Nazaré e, com o seu olhar terno e profundo, ter reconhecido que Ele me chamava a ser seu Companheiro. O teu desconforto nunca foi uma coisa má; pelo contrário, foi sempre uma motivação para discernir uma vocação de Amor e de serviço a Deus, à sua Igreja, na Companhia de Jesus.

E incomoda-me reconhecer que o teu amor pela Igreja e pelo mundo é um reflexo do conhecimento profundo de Jesus, do seu amor ardente por nós, e que me convida a continuar a conhecê-lo mais.

Depois de doze anos a segui-lo à distância, incomoda-me vê-lo frágil e necessitado de outros que cuidem de si, porque me questiono se me estou dando completamente como o senhor faz, com amor por toda a Igreja e pelo nosso planeta.

Obrigado pela tua incomodidade, querido Papa Francisco, porque nos ensina a discernir o que é verdadeiramente importante: ser e desejar ser Igreja, seguindo Jesus de Nazaré.

* Humberto Guzmán Parra, S.J. Publicado em Christus, Revista de Teología, Ciencias Humanas y Pastoral (México)

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