Na Ucrânia com a Relíquia de Allamano

Padre Michelangelo e padre Luca Bovio entregam a relíquia de São José Allamano ao bispo auxiliar de Zaporizhzhia. Fotos: Michelangelo Piovano

Juntamente com o padre Luca Bovio, nomeado diretor das Pontifícias Obras Missionárias (POM) na Ucrânia, visitamos este país afetado pela guerra levando conosco também, uma relíquia de São José Allamano para ser doada ao bispo da Diocese de Kharkiv-Zaporizhzhia.

Por Michelangelo e Luca Bovio *

Em Kiev, fomos hóspedes da Nunciatura, onde recebemos uma recepção calorosa e amigável do Núncio, seus secretários e das religiosas que ali trabalham.

De 25 a 26 de agosto, estivemos na paróquia dos Oblatos de Maria Imaculada, na cidade de Chernihiv, perto da fronteira com a Rússia e a Bielorrússia. A cidade e principalmente as vilas do interior sofreram pesados ataques no início da invasão russa, mas felizmente o exército ucraniano, apesar de ser minoria, conseguiu repelir o avanço da Rússia.

No entanto, as cicatrizes da guerra ainda permanecem, com muitas casas destruídas e novas já reconstruídas com a ajuda de várias associações, especialmente americanas. Em uma aldeia, um grupo de 150 mulheres vive em uma série de contêineres transformados em casas e doados pela Polônia.

Não há homens, pois a maioria está nas frontes de guerra e vários já morreram. Chegamos lá por volta do meio-dia, quando dois micro-ônibus chegam com o almoço para todos e outro com pão.

Um jovem de uma associação americana trazia kits individuais de almoço até o contêiner onde fica o refeitório, para cada pessoa buscar. Uma mulher responsável pelo acampamento nos leva para ver sua casa e a que agora construíram para ela, de madeira.

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Ela está feliz, embora não seja como a que tinha antes. Na parede, há também a foto de uma linda e grande família americana que lhe deu este presente por meio de uma associação. Ela ficou feliz com a nossa visita acompanhado pelo padre da paróquia e nos deu um pote de pepinos em conserva e outro com tomates-cereja que ela fez com os frutos que ela cultivou em seu jardim, onde montou uma pequena estufa.

A guerra continua a causar mortes e sofrimentos

Embora a paz e a tranquilidade pareçam reinar aqui, como em Kiev e em muitas outras cidades, o mesmo não acontece nas áreas onde os combates continuam e onde muitos continuam a morrer e a dar a vida em defesa da sua pátria. Ao passar por qualquer cidade, vê-se imediatamente os rostos destes heróis e mártires, que cada lugar quer recordar com uma fotografia, flores e a bandeira amarelo-azul.

Quando se passa por um cemitério onde estão enterrados soldados, nota-se imediatamente que também há uma bandeira em cada sepultura, e em cada cemitério de aldeia há sempre muitas. Padre Luca Bovio conta-me que, quando o caixão de um soldado passa na rua, as pessoas, a pé ou de carro, param e se ajoelham.

Enquanto estamos em Chernigov, entramos numa bela igreja ortodoxa. Estavam realizando o funeral de um jovem pai que morreu na guerra. Uma oração acompanhada de cânticos, aroma de incenso e a leitura do Evangelho de João, onde diz que “não há maior amor do que dar a vida pelos irmãos”. Ao redor do caixão, envolto em uma bandeira e coberto de flores, está a família: uma jovem, serena em sua dor silenciosa, a abraça, e duas lindas crianças, de oito ou dez anos.

O menorzinho, visivelmente emocionado, repousa a cabeça no caixão, como se ainda quisesse ouvir algumas palavras ou o som da respiração do pai. Todos se reúnem ao seu redor e rezam com fé, respondendo às orações dos celebrantes e ao canto do Aleluia Pascal. O padre ucraniano que nos acompanha conta que o celebrante concluiu com uma bela oração de perdão.

Isso acontece quase todos os dias, porque a guerra continua fazendo vítimas. Mesmo em nosso primeiro dia na Ucrânia, o pároco de uma paróquia onde estávamos hospedados tinha acabado de celebrar o funeral de outro pai de 47 anos que deixou três filhos pequenos.

A relíquia de São José Allamano

De Kiev, viajamos para Zaporizhia, onde fomos recebidos por Dom Jan Sobilo, bispo auxiliar da diocese de Kharkiv-Zaporizhia, e para onde também levamos a relíquia de São José Allamano, que ele colocará no Santuário que construiu, dedicado a Divino Pai Eterno.

Durante a celebração da Missa da manhã e em memória de Santo Agostinho, um rapaz e uma moça, Agostino e Mônica, são crismados. Levamos a relíquia de São José Allamano ao altar, com a qual abençoamos os fiéis ao final da Missa.

Padre Michelangelo com dom Jan Sobilo, bispo auxiliar de Kharkiv-Zaporizhzhia e dois crismados

O bispo nos pediu para dizer algumas palavras e, em seguida, expressamos nossa alegria e gratidão por deixar a relíquia no Santuário para que ela acompanhe o trabalho missionário que o padre Luca Bovio está iniciando como diretor das POM na Ucrânia. Ao mesmo tempo, pedimos a Pai Allamano, juntamente com a Mãe Consolata, que interceda por essas pessoas, pela paz na Ucrânia e que leve seu consolo.

Do lado de fora do Santuário, alguns frades albertinos distribuem pão que eles mesmos fizeram e carne enlatada; mais de 1.500 pessoas chegaram esta manhã. Há também outro ponto de distribuição de alimentos na cidade.

À tarde, encontramos Irina, professora e catequista, que nos conta sobre seu trabalho com as crianças, tanto na escola quanto na paróquia, buscando garantir que a educação e a formação cristã continuem apesar da guerra e da necessidade de começar o ano letivo em 1º de setembro, ainda que nos abrigos subterrâneos da escola. Ela demonstra particular interesse pelo trabalho missionário do padre Luca e pelo nosso Fundador, cuja relíquia viu na missa.

Padre Luca Bovio e a catequista Irina

Durante a noite, ataques com mísseis e drones continuaram em Kiev e por todo o país, causando várias vítimas.

Continuamos a rezar pela paz e pelo fim deste conflito. São Miguel Arcanjo, padroeiro da Ucrânia e de Kiev quase desde a sua fundação, é venerado todos os dias com uma oração especial no início de cada missa e está exposto em muitas igrejas e praças por todo o país. Um cartaz espalhado pelas ruas de Kiev, escrito em inglês, diz: “Kiev espera por vocês depois da vitória”.

Rezamos para que a paz retorne à esta terra e que ela possa ser novamente visitada e admirada pela beleza de seus rios, florestas, cidades, vastas áreas rurais cultivadas, igrejas repletas de ícones e, acima de tudo, por seu povo acolhedor e hospitaleiro, como temos vivenciado nos últimos dias.

* Padre Michelangelo Piovano, IMC, Vice-Superior Geral, e padre Luca Bovio, IMC, Diretor das POM na Ucrânia.

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