Irmã Lúcia Bortolomasi partilha sobre a missão na Mongólia

Irmã Lúcia na Catedral de São João de Latrão em Roma. Foto: www.missioroma.it

Publicamos o testemunho da Irmã Lúcia Bortolomasi, Missionária da Consolata italiana, sobre o seus 15 anos de missão na Mongólia por ela partilhado na Vigília Missionária Diocesana em Roma, na Catedral de São João de Latrão, em 21 de outubro de 2021.

Vivi na Mongólia durante 15 anos, onde cheguei em 2003 juntamente com o primeiro grupo: dois missionários e três missionárias da Consolata, depois que os nossos Institutos decidiram abrir-se à Ásia e fazê-lo em espírito de comunhão, para viver o carisma ad gentes recebido do Bem-aventurado José Allamano, nosso Fundador.

Os primeiros anos foram de inserção numa realidade tão nova: estudo da língua e dos aspectos culturais e religiosos da Mongólia, discernimento para nos tornarmos disponíveis a iniciar uma pequena presença onde nunca haviam estado outros religiosos antes.

Após alguns anos nos mudamos para Arvaiheer, a 430 km da capital.

Li uma vez em um guia turístico sobre a Mongólia: “Uma vez em Arvaiheer, é aconselhável continuar, porque não há nada de interessante para ver ali”. De uma forma misteriosa, Deus conduziu-nos para aquele lugar aparentemente insignificante, para anunciar o seu amor.

Uma nova inserção, ainda mais exigente, com incertezas, medos… alguns pontos fixos que nos sustentaram e guiaram: a oração e a fraternidade, vivida com grande simplicidade e sem meios.

Irmã Lucia na missão na Mongólia

A missão na Mongólia exigia que morrêssemos, que víssemos a verdade profunda em nós próprios, desvendando as nossas seguranças; lentamente as máscaras caíram, experimentamos a nossa pobreza, a nossa fraqueza para dar lugar à misericórdia de Deus e à Sua Graça.

Ser hóspedes e peregrinos

A Mongólia foi uma das maiores graças na minha vida porque pôs a minha pessoa a nu e fez-me descobrir o essencial. Nesta viagem missionária, descobri como é importante abandonar as nossas defesas, as nossas estratégias e os nossos modelos importados que levamos de outros lugares e experimentar ser hóspedes e peregrinos.

Na Mongólia há muitos aspectos que nos recordam constantemente isto: a polícia e o ministério de imigração controlam-nos constantemente. Não somos casados nem temos filhos, por isso somos de dar pena, falamos a língua deles com sotaque estrangeiro, temos um nariz comprido e uma pele de cor diferente. É apenas a bondade destas pessoas que nos permite viver no seu país, é por isso que somos convidados.

E com o tempo, as pessoas compreenderam que também somos peregrinos, enviados por Alguém que se quer revelar, não turistas ou empresários .

A missão é de Deus

Compreendemos que a missão é de Deus, é Ele quem abre caminhos, nos guia, nos acompanha. Vivemos a missão porque Deus a quer, não porque somos poderosos e capazes, e isto ajuda-nos a crescer em humildade, não temos nada de que nos vangloriar.

Experimentamos todos os dias que somos mulheres frágeis e fracas, mas também que é tão bonito partilhar as nossas vidas com o povo a quem Deus nos enviou.

Chamingerel, uma rapariga da Mongólia, escreveu num dos seus testemunhos: “No início fiquei espantada e perguntei-me: por que é que estes missionários estão na Mongólia com 40° abaixo de zero no Inverno? Por que vivem conosco? Mais tarde compreendi é por causa da Boa Nova. Eles não chegaram com pacotes de livros, mas com pessoas reais, portadores de Jesus.

Acreditar em Deus

Gostaria de concluir com a coisa mais bela que aprendi na Mongólia: acreditar em Deus. Sim, penso que este é o maior presente que recebi da missão.

As pessoas que se aproximaram da fé ensinaram-me a ter essa fé simples, mas profunda, uma fé que me leva a um verdadeiro encontro com Deus, que me atrai tanto que já não posso viver sem ela.

Uma fé como a de Regezdmaa, uma mulher que em meio a muita neve estava disposta a caminhar mais de uma hora para vir à nossa “ger-capela” (tenda circular mongol) para partilhar a Palavra de Deus. Espantada com a sua teimosia, tomei a liberdade de lhe dizer que podia ficar em casa e evitar todo aquele frio: “Como posso desistir de algo tão belo, como posso desistir de ouvir e partilhar a Palavra que Deus reservou para nós?”

A Mongólia ensinou-me que o Evangelho é realmente “Boa Notícia”, que muda as nossas vidas se o deixarmos entrar em nós. Que vale a pena dar as nossas vidas para que outros possam vibrar com esse amor que toca o mais profundo dos nossos corações.

É por isso que, como o Papa Francisco destacou: “Não podemos deixar de falar sobre o que vimos e ouvimos” (Atos 4, 20).

Irmã Lúcia Bortolomasi, Conselheira Geral das Missionárias da Consolata. Publicado no site: www.missioroma.it

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