O papa João Paulo II costumava dizer que “uma fé que não se torna cultura é uma fé que não é totalmente acolhida, não é inteiramente pensada e vivida fielmente” (Discurso de fundação do Conselho Pontifício para a Cultura, 1982).
Por Lawrence Ssimbwa*
A fé e a cultura são realidades inseparáveis. A relação entre as duas está muito viva no interior do ser humano. Para compreender esta relação, é importante esclarecer primeiro o que significam fé e cultura.
O que é a fé e o que é a cultura?
Uma é diferente da outra, mas ambas se relacionam entre si. A cultura é o conjunto de significados que dão sentido à forma de compreender toda a realidade em que está inserida. Em outras palavras, é o conjunto de significados que informa sobre a vida de um povo.
Mas a fé é um dom sobrenatural pelo qual acreditamos em Deus e em tudo aquilo que Ele nos disse e nos revela e que a Igreja nos propõe, porque Ele é a própria verdade. Em outras palavras, é a virtude sobrenatural pela qual acreditamos ser verdade tudo o que Deus revelou. É impossível sem fé ter um contato íntimo com Deus. Através da fé o homem se entrega livremente a Ele e através dela esforça-se por conhecer e fazer sua vontade. Por esta razão, a fé é o fundamento da vida moral (Catecismo, n.º 2087).
A relação entre fé e cultura
A fé e a cultura constituem um binômio que não pode ser separado. É importante notar que aqueles que creem são seres inseparavelmente culturais. Assim, os símbolos, narrativas e doutrinas em que o religioso é inserido são expressões das culturas.
Neste sentido, podemos dizer que a cultura é a pista de aterrizagem da fé. A fé é expressa através da cultura e de todos os seus elementos, de tal forma que a vivência da fé é dada graças à cultura, mas sem ser reduzida a ela.
A fé deve ser encarnada, integrada em todas as culturas porque se manifesta na vida, assumindo suas formas. Toda fé é expressa de acordo com a cultura do povo que a vive. A pessoa de fé expressa-o sempre dentro dos parâmetros da sua cultura.
A fé promove a cultura porque exerce uma função crítica em relação às áreas escuras das culturas, porque a proclamação que o crente traz ao mundo e às culturas é uma forma real de libertação das desordens introduzidas pelo pecado e, ao mesmo tempo, um apelo à verdade plena.
Em suma, há sempre uma relação entre fé e cultura, porque a cultura precisa de fé, um dom de Deus que constitui uma comunidade cristã, e a fé precisa que a cultura assuma uma forma concreta. Para tal, é importante recordar as sábias palavras do papa João Paulo II: “a fé que não se torna cultura é uma fé não totalmente recebida, não totalmente pensada, não fielmente vivida”. Portanto, a fé e a cultura constituem a base indispensável para a inculturação do Evangelho e de todo o processo eclesial de evangelização.
*Lawrence Ssimbwa, imc, é missionário em Buenaventura (Colômbia).