
Com a entrada em cena do novo Coronavírus, estamos aprendendo a viver a liberdade como uma oportunidade de levar-nos a descansar com uma pausa na história e a construir um novo caminho, consciente das situações e de quem está ao nosso lado.
Por Nelson Rivera*
Chegamos ao fim do jogo, era uma multidão com muita pressão e dois fenômenos num único jogo de xadrez. As pessoas não sabiam o que fazer, eles correram, havia muito barulho fora e dentro. Sim, calma, em quem apostar? Eram ambos fenômenos e num xeque-mate as pessoas perguntavam-se o que acontecerá após tudo isso ter terminado?
Quem são eles
É curioso como o fenômeno chamado “liberdade” foi investigado durante muito tempo, dedicaram livros inteiros para explicá-lo, entrevistas para compreendê-lo e diferentes abordagens disciplinares como psicologia, política, direito, filosofia etc., correspondem à ação do ser humano, seu livre arbítrio e sua aplicação. Referindo-se ao conceito de liberdade, a RAE (Academia Real da Língua Espanhola) afirma: “a faculdade natural que o homem tem de agir de uma forma ou de outra, e de não agir, pelo que ele é responsável por suas ações”.
Por outro lado, temos o fenômeno da pandemia da Covid-19. Isto fez-nos estudá-lo, combatê-lo, é algo que não se vê à primeira vista, no entanto, causou uma transformação na nossa existência, na nossa história até condicionar a livre atividade. A Organização Mundial de Saúde (OMS) define-o da seguinte forma: “os Coronavírus (CoV) são uma família de vírus que podem causar várias condições, desde a constipação comum até doenças mais graves, tais como o que causa a Síndrome Respiratória do Médio Oriente (MERS-CoV) e causa a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAS-CoV). Os Coronavírus podem ser passados de animais para pessoas”.

Sobre o fenômeno “liberdade”
Na escravidão antiga existia outro-outra que limitava a liberdade da pessoa, atuando em sua vida como dono, amo e senhor desse indivíduo, numa dialética de amo e escravo. Mais tarde, o filósofo Enrique Dussel fala do dominado e do dominador, do oprimido e do opressor. É evidente que o escravo não tem espaço para exibir sua capacidade natural de liberdade e de forma alguma, condições essenciais para o livre arbítrio e a livre atividade.
Depois, há a escravidão pós-moderna, que não existe a outra-outro que me oprime e limita a minha liberdade. Neste caso, a própria pessoa anseia pelas correntes porque elas são altamente atraentes. O próprio ser humano é aquele que se escraviza, é o amo e o escravo, dentro de uma sociedade consumista, condicionada pela dinâmica de produzir para consumir. As “cadeias altamente provocativas” são dadas pela novidade do momento, mesmo que não seja necessário, tem que ser feito, tem que ser comprado! Talvez, as cadeias da pós-modernidade deem satisfação a um prazer momentâneo e isso faça a pessoa viver anestesiada, alienada, sendo sempre escrava de si mesma para comprar, consumir e acumular; gerando assim o que hoje chamamos uma sociedade de cansaço ou com pouco ou nenhum livre arbítrio.
Sobre o fenômeno “Covid-19”

O cotidiano não pode ser o mesmo. Pessoas, cidades e o ordem social de aldeias inteiras foram infectadas pela Covid-19. Este fenômeno atingiu o seu ponto mais alto, gerando comportamentos psicológicos variáveis devido ao pânico, como a ansiedade e o stress. O isolamento social criou condições diferentes para o educação e o trabalho. E entre os líderes mundiais determinou ações na economia e na política formas por onde ainda não estavam preparados.
O fenômeno chamado Covid-19, bateu na porta da espécie humana, com todos os avanços científicos, somos vulneráveis, estamos presos, numa pausa na história para descansar. O descanso é entendido como o espaço de plena realização de cada pessoa para cultivar novas ideias, critérios, atitudes e valores.
Sem dúvida, o fenômeno Covid-19 deu ao ser humano chaves para exercer a sua liberdade, seu livre arbítrio, porque o ser humano, já não está no piloto automático! Ele está agora consciente de viver ou morrer, do que está ao seu lado, de quem os rodeiam, de descansar no meio de uma sociedade de cansaço, de forçar as correntes para ser livres, de colocar as máscaras de proteção e deixar fora as máscaras da hipocrisia.
Hoje, mais do que nunca demos o lugar que corresponde à faculdade natural de escolher e escolher bem; de tomar esta pausa e reflexionar as máximas ideias que conduzem as nossas ações diárias. De parar de colocar o foco fora e colocar o foco dentro, alimentando nossas capacidades de maravilhar-nos não só de olhar em preto e branco, mas que olhar as sombras, as variáveis que vão para o futuro e que ainda não sabemos como contemplar os pequenos detalhes da vida, e fazê-lo a partir de baixo, do coração. Isto é como um presente embrulhado e desembrulhado, dando e recebendo.
E assim como este fenômeno da pandemia é contagioso e o fenômeno da liberdade anima a nossa capacidade natural de agir de uma forma ou de outra, hoje podemos tomar a decisão de contagiar o que não se vê à primeira vista, e contagiar as alegrias, a esperança, a paz, a felicidade daqueles que caminham ao nosso lado. Deixando de lado o stress, a tristeza, a preocupação e a amargura que também são contagiosas e que acabam em definitivo por destruir e acabar entre nós. Convido-o a viver de forma diferente, a passar de andar em piloto automático ou anestesiado e a tomar a decisão de infectar-se com boas obras e dar vida em abundância para a consolação, amor e perdão sem limites.
* Nelson Rivera, imc, é estudante de Teologia no Brasil.