O Cimi nasceu no dia 23 de abril de 1972, como organismo anexo à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), com a proposta de repensar a atuação da Igreja católica junto aos povos indígenas.
A ideologia desenvolvimentista e autoritária daquela época, em plena ditadura militar, não era nada favorável a uma pastoral em defesa dos povos indígenas – especialmente uma pastoral crítica à perspectiva colonial e integracionista proposta pelo Estado ditatorial.
Apesar disso, o Cimi assumiu o compromisso de buscar descolonizar a atuação da Igreja junto aos povos originários, fortalecer suas lutas e sua autonomia. Em meio à repressão e à censura, o Cimi assumiu o papel profético de denunciar a violência contra esses povos.
Os indígenas, ao contrário do desejado da ditadura, não foram extintos nem “integrados”: resistiram, se organizaram e fortaleceram suas lutas. A primeira das cinco décadas do Conselho Indigenista Missionário ajudou a plantar sementes teimosas.
Um marco desse momento foi a publicação do manifesto “Y-Juca Pirama – O Índio: aquele que deve morrer”, em 1974. O manifesto sistematizava uma série de informações e denúncias sobre as investidas do Estado e dos poderosos grupos econômicos que cobiçavam suas terras e queriam decretar a morte dos povos indígenas no Brasil: sem índios, suas terras restavam livres para a exploração e apropriação.
Em 1975, em sua primeira assembleia geral, o Cimi definiu suas linhas de atuação, que servem de referência para a atuação missionária até hoje: terra, cultura, autodeterminação e um novo jeito de presença e envolvimento junto aos povos originários.
Esse novo envolvimento foi marcado pela iniciativa de fortalecer a organização autônoma dos povos originários e de buscar criar uma articulação nacional entre lideranças indígenas. Foi com essa perspectiva que o Cimi ajudou a organizar e viabilizar, ao longo da década de 1970, as primeiras Assembleias de Chefes Indígenas – semente do que seria um movimento indígena articulado em todo o território nacional.
A década de 1970 também marcou a criação do secretariado nacional do Cimi, em 1973, e da maioria dos regionais, criados em encontros de pastoral indigenista nas regiões e pensados para dar conta da enorme complexidade de povos e demandas que chegavam ao conhecimento do Cimi.
Também foi marcante a luta contra o projeto de “emancipação” dos povos indígenas, proposto pelo então ministro do Interior do governo ditatorial de Ernesto Geisel, Rangel Reis. Disfarçado sob a proposta de dar “autonomia” aos povos indígenas, o projeto previa a “integração” dos povos indígenas, ou seja: a negação de sua identidade e de seus direitos.
O ministro chegou a prever que, em 30 anos, não haveria mais indígenas no Brasil, pois todos estariam “integrados na sociedade nacional”. O Cimi teve papel importante na articulação entre diversos setores da sociedade civil que, especialmente nos anos de 1978 e 1979, derrotou o projeto da Ditadura.
Fonte: Cimi