CIE: perdão, dom Tonino, por não ter entendido sua voz evangélica

Dom Tonino Bello. Fotos: Vatican Media

O presidente da Conferência Episcopal Italiana presidiu uma Missa na tarde desta quinta-feira, 20 de abril, em Molfetta, região da Puglia, sul da Península, para lembrar o bispo que gostava de ser chamado de “dom” (padre) que morreu no dia 20 de abril de 1993.

Por Tiziana Campisi/Raimundo de Lima

Ele era um semeador de paz, disse o purpurado, ressaltando que a genuinidade e simplicidade do prelado, que considerava a estola e o avental a frente e o verso de um único símbolo sacerdotal, nem sempre eram compreendidas

Um homem que se alimentava da Palavra de Deus, que falava ao coração das pessoas, de maneira simples e direta: este era Tonino Bello. O cardeal Matteo Zuppi, presidente da Conferência Episcopal Italiana, destacou seus traços na tarde desta quinta-feira, 20 de abril, ao presidir a Missa na catedral de Nossa Senhora da Assunção em Molfetta, região italiana da Puglia, organizada pela Diocese de Molfetta-Ruvo-Giovinazzo-Terlizzi para recordar o bispo que morreu há trinta anos. Aquele bispo que amava ser chamado de “dom” (padre) era movido por uma inquietude “que o levava a não aceitar a fome, mas a semear a paz sempre e em todo lugar”, disse o purpurado; paz que deve ser semeada “sobretudo hoje, quando vivemos cenários ainda piores na dramática guerra que está sendo travada na Ucrânia e nos outros pedaços de conflito que nos comovem a todos e nos impõem uma escolha”. Paz que dom Tonino definiu como vocabulário, explicando que “o rio da paz se alimenta de afluentes e flui em estuários que têm nomes desafiadores e profundos como desarmamento, economia da justiça, salvaguarda da criação, legalidade e democracia, direitos humanos, não-violência, participação, respeito às pessoas, bens comuns”.

Uma voz às vezes recebida com incômodo

Em sua homilia, o cardeal Zuppi repetiu várias vezes que sentiu a necessidade de pedir perdão a dom Tonino, porque “sua voz evangélica foi mal compreendida, exigente como é o Evangelho que pede amor verdadeiro, não sucedâneos”, um amor que envolve tudo”, “sem astúcias, cálculos, eclesiasticismos, instrumentalidades, ideologias”. Uma voz que às vezes foi também “recebida com incômodo ou mínima suficiência, com piedade paternalista”, entendida como fruto de “intemperanças, exageros úteis para alguma ação demonstrativa” e não como de “escolhas que envolvem toda a Igreja, escolhas de campo, de perspectivas”. “Não fazíeis concessões e recordavas que o amor a Deus e ao nosso irmão menor entre todos são a mesma coisa e que, se falta um, falta também o outro”, acrescentou o presidente da Conferência Episcopal Italiana, dirigindo-se idealmente ao bispo declarado venerável há cerca de dois anos. E o purpurado também pediu perdão a dom Tonino por todas as vezes que sua palavra foi imitada mas não vivida, esvaziada e tornada verbal, enquanto que para ele “era para fazer falar a vida e nela vislumbrar o rosto de Cristo”, buscado “com profunda sede de amor diante do tabernáculo e na Eucaristia” e reconhecido no rosto de cada pessoa.

20 de abril de 2018: o Papa Francisco reza no túmulo de dom Tonino Bello em Alessano, Lecce. Foto: Vatican Media
A estola e o avental do padre

Dom Tonino, que convidava a “colocar o avental no armário dos paramentos litúrgicos”, para fazer entender que “estola e avental são a frente e o verso de um único símbolo sacerdotal”, admoestava que aqueles que obedecem a Deus se mantêm distantes do poder, prestígio e prodígios, recordou o cardeal Zuppi, acrescentando que três palavras-chave, opostas, guiaram a vida do bispo da Diocese de Molfetta-Ruvo-Giovinazzo-Terlizzi: oração, pobres e paz. Do prelado que morreu com 58 anos de idade de um tumor, o purpurado comentou também o gosto pela comunhão: “para ele, as palavras ‘caminhar’ e ‘juntos’ eram inseparáveis e faziam sentido um para o outro”. Em seguida, o presidente da Conferência Episcopal Italiana enfatizou que “a Igreja não é feita para ser sedentária, para se fechar em auto-contemplação, mas para caminhar nas estradas dos homens”. “Se permanecermos estacionários – continuou ele -, “inevitavelmente acabamos discutindo sobre quem é o maior e o serviço se torna consideração pessoal e não dando consideração ao nosso próximo”. Dom Tonino via a Igreja como o Corpo de Cristo, não como uma agência de beneficência, uma organização não governamental, explicou o purpurado, ele a considerava um sujeito “constituído, em seus membros, pelos pobres”, pobre a ser compreendido não somente no sentido material, mas também no sentido moral e espiritual. Em suma, dom Bello “prefigurou uma Igreja sinodal, tanto que sua primeira carta pastoral – Juntos no seguimento de Cristo no passo dos últimos – foi fruto de um escrito coletivo no qual todas as presenças da comunidade foram convidadas a repensar-se e reescrever-se”. Focalizado em Jesus Cristo e seu Evangelho, dom Tonino era um cultor do homem, concluiu o cardeal Zuppi, e a grande lição que nos deixou foi a de confiar-nos a Deus e a considerar todos como irmãos.

Fonte: Vatican News

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