
Em tempos difíceis de pandemia com 59 guerras e inúmeros conflitos acontecendo no mundo, os cristãos mostraram-se corajosos e solidários, mantendo viva a chama da fé e da esperança no Deus da vida e da paz. Depois do Calvário vem a Ressurreição e o Pentecostes, vida plena no Espírito. Para o cristão, Maria de Nazaré é modelo e fonte de inspiração.
Por Jaime C. Patias *
A Igreja dedica o mês de maio às devoções marianas. Como discípulos missionários nos sentimos partícipes da missão materna de Maria que gerou em seu ventre Jesus e depois mostrou ao mundo a Boa Nova da Salvação. Maria é Mãe que nos consola e acompanha em todos os momentos da história indicando sempre a presença do Deus encarnado, crucificado e ressuscitado.
Em tempos sombrios, Maria acompanha os dramas da humanidade. Em todos as situações ela tem algo a nos ensinar. No trabalho de evangelização a Igreja, em suas inúmeras comunidades, dá especial atenção à iniciação de novos seguidores (as) de Cristo. Em base às experiências vividas em diversas partes do mundo gostaria de retratar a vida cristã à luz de sete situações vividas por Maria.
1. A Bíblia retrata Maria de Nazaré como a virgem que sabe ouvir, sempre atenta à escuta da Palavra de Deus. Escutar atentamente os pais, os anciãos, os mestres e educadores, e sobretudo escutar o que Deus em seu Espírito tema dizer e inspirar, é uma forte característica de tantos povos. Essa atitude está muito presente nos relatos bíblicos e nas narrativas sobre a civilização. Os que desejam se tornar cristão (na iniciação – o catecúmeno) devem aprender a atitude de escuta como aquela de Maria. Deus chama para uma vida nova em Cristo.
2. Maria é também a virgem que ora, que dialoga com Deus para discernir o significado dos acontecimentos e da própria vocação. Na anunciação, Maria fez um diálogo discernindo a vontade de Deus (Lc 1, 5-25). Como Maria, a pessoa que deseja assumir a fé cristã se interroga sobre o significado do chamado de Deus em confronto com suas próprias limitações para corresponder ao convite; decide enfrentar os desafios deste mundo (culturais, sociais e familiares) à luz da proposta do Evangelho dando início à “catequese”: um caminho de formação para o discipulado.
3. Para quem se dispõe a viver a fé cristão Maria é a virgem que crê na Palavra de Deus e na vocação que Deus lhe concede, e diz o seu sim. Esse período de preparação para acolher a fé cristã é o tempo do sim, o tempo do maravilhoso Pentecostes pessoal. O Espírito Santo está mais perto.
O lugar espiritual destas primeiras três situações é Nazaré onde se aprende com Maria a escutar, a rezar e a crer.

4. Nas situações onde se preparam jovens e adultos para abraças a vida cristã, no início da Quaresma acontece a seleção dos catecúmenos para serem batizados na Vigília Pascal. Para os eleitos, Maria é a virgem que se oferece a Deus no seguimento de Cristo. O Batismo é uma festa; o início de uma vida nova. Assim o lugar espiritual não é mais Nazaré, e sim Belém. Os neófitos (recém-batizados) renascem com Jesus na Páscoa e vivem um tempo de liberdade espiritual e de grande intimidade com Jesus.
5. Para os novos discípulos missionários, Maria é a virgem que anuncia Jesus e intercede pela humanidade. Aqui nos encontramos ainda em Belém. O lugar espiritual é Caná, quando naquela festa de casamento, Maria diz aos serventes: “Façam aquilo que Ele vos disser” (Jo 2, 5). Caná é o lugar do apostolado de Maria. Os novos cristãos passam a ser anunciadores do Evangelho fazendo aquilo que Jesus ordenou: “Ide por todo o mundo anunciar a Boa Nova do Evangelho”, ou seja, partilhar a alegria de haver encontrado Cristo… (Mt 28,16-20; Mc 16,14-18; Lc 24,36-49; Jo 20,19-23; At 1,9-11). A evangelização em diversos países não foi feita por padres ou missionários (as) mas, sobretudo por leigos e leigas, os cristãos que não guardaram para si o tesouro da fé, mas criaram comunidades por onde passaram.
6. Para os cristãos Maria é a virgem fiel ao seu Filho dileto. Ela que sempre amou Jesus; na infância, em Belém e Nazaré, no apostolado triunfal de Caná, mas também na dor da paixão e morte. O lugar agora é o Calvário, perto da cruz onde Jesus confia a Maria o discípulo como seu filho. Maria torna-se a Mãe também dos discípulos do Filho e por consequência, a Mãe da Igreja (Jo 19,25-27). Como Maria, também os cristãos no mundo recebem no Calvário o dom da maternidade espiritual. Nos tempos mais difíceis, no “Calvário” das epidemias e guerras, secas, violência, fome, pobreza, calamidades, perseguição e martírio os cristãos mostraram-se corajosos e solidários mantendo viva a chama da fé e da esperança.

7. Mas a vida não para no Calvário. Depois do Calvário vem a Ressurreição e o Pentecostes, vida plena no Espírito. Para os cristãos, Maria é a mestra de vida espiritual. O lugar aqui é o Cenáculo. Maria ensina o que é viver segundo o Espírito Santo. É o período da maturidade cristã. Como resultado da evangelização, as comunidades cristãs florescem em toda parte. Surgem os diversos ministérios e serviços nas comunidades. Despertam as vocações à Vida Religiosa e Consagrada, ao ministério ordenado, como fecundidade espiritual e expansão apostólica.
No Cenáculo os cristãos vivem contemporaneamente a situação de Maria que escuta, ora, crê, se oferece, intercede, a Virgem que é fiel e madura na fé. No Cenáculo estão presentes o entusiasmo de Nazaré, a alegria de Belém, o apostolado de Caná, a dor do Calvário e a glória da Ressurreição. Em todas essas situações os cristãos no mundo se identificam com Maria, modelo e guia de evangelização.
* Padre Jaime C. Patias, IMC, é Conselheiro Geral para América.