35ª Semana do Migrante

15 de junho de 2020

Celebrada de 14 a 21 de junho com o tema: Migração e Acolhida, e o lema: “Onde está teu irmão, tua irmã?”

José Luiz Ferreira Sales*

Em 2019, tivemos uma onda de migração e refúgio, nunca vista nas últimas décadas, com a crise do capital no olho do furacão, gerando crises humanitárias, ambientais e guerras. Novas fronteiras agrícolas se tornaram metas dos migrantes, geraram conflitos, e minaram sonhos, nas caminhadas do povo de Deus. Moisés se reinventa no mundo contemporâneo na superação de muros, fronteiras, desumanização e impérios do medo e do ódio. Não é à toa que temos uma Campanha da Fraternidade em 2020, com o tema/ lema: Fraternidade e Vida: Dom e Compromisso / “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10,33-34) –, somos convidados a refletir sobre o significado mais profundo da vida em suas diversas dimensões: Em nossa 35ª Semana do Migrante de 2020, cujo tema/lema é “Migração e Acolhida: Onde está o teu irmão, tua irmã?”, expressamos nossa comunhão com a CF e principalmente com a Igreja, a qual se depara com um modelo econômico excludente, que explora, trafica pessoas e escraviza o ser humano na sua integralidade.

É fundamental nesta Semana do Migrante pensar o outro nessa alteridade evangélica, na espiritualidade encarnada e vivenciada nas experiências de acolhida, proteção, promoção e integração do migrante e refugiado. O próprio Papa Francisco, que trouxe o lema do 106º Dia Mundial dos Migrantes e Refugiados, em sua mensagem tradicional “Como Jesus, forçado a fugir”, nos apela para olhar o desafio dos deslocamentos internos, que no mundo são mais de 41 milhões de pessoas.

É Deus quem nos interpela: onde está o teu irmão, tua irmã? Qual a minha resposta a DEUS? É a mesma resposta de Caim?: “Por acaso eu sou o guarda do meu irmão?” Para que a minha resposta à Deus seja uma afirmação: “Eu sou o guarda do meu irmão!” Precisamos nos lembrar que somos humanos; porém, muitas vezes, acabamos não sendo irmãos uns dos outros, e nem nos dispomos a ajudar aqueles e aquelas que estão ao nosso redor, precisando de solidariedade, consolo, amizade e presença. Seguir Jesus é sempre desafiador, pois implica sair de si e dialogar com o diferente. Encarnar o Cristo Vivo no meio dos migrantes e refugiados é missão e chamado da Igreja Samaritana e Profética: Onde está teu irmão?, onde está tua irmã? (cf, Gen 4,9). Pode e deve nos provocar e imaginar: “Talvez esteja sofrendo sozinho, ou sozinha, esperando uma carta nossa, um e-mail, um telefonema ou até mesmo a nossa visita. Talvez esteja nas drogas, na prostituição, na depressão, na solidão, no cárcere, porque não fomos capazes de olhar para o lado e enxergá-lo ou enxergá-la, ou porque não os acolhemos e nem tivemos a coragem de mostrar Jesus, Caminho, Verdade e Vida para eles.”

Como diz um poeta popular: “Gente é pra brilhar, não pra morrer de fome” – No Evangelho, encontramos: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10). O Deus que nos interpela “onde esta teu irmão e tua imã?”, não está distante ou “nas nuvens”, nem nos quer alienados, pois este distanciamento nos afasta Dele e das pessoas, nos tirando a humanidade. Se um dia nossa “experiência de Deus” ou nossa espiritualidade nos afastar dos irmãos, ou nos fazer sentir superiores a eles e, com arrogância, menosprezá-los, podemos nos questionar se fizemos de fato uma experiência com o Deus verdadeiro, na opção preferencial pelos pobres, pelos famintos, migrantes e refugiados, apátridas, deslocados internos. A nossa Semana do Migrante valoriza a dedicação e coragem para dar a Deus uma resposta positiva quando ele perguntar “Onde está teu irmão, tua irmã? Então iremos dizer: “SIM EU CUIDO DO MEU IRMÃO, DA MINHA IRMÃ MIGRANTE e isso é coletivo, é comunitário, é alteridade, é Reino de Deus no meio de nós!

*Dom José Luiz Ferreira Sales, CSSR, Bispo de Pesqueira (PE).Presidente do Serviço Pastoral dos Migrantes (SPM)

Downloads

Cartaz

Texto Base

Conteúdo Relacionado