
Missão junto aos huarpe, povo originário da parte central do território argentino.
Por Equipe de Comunicação IMC Argentina
O atual território huarpe está localizado na província de Mendoza, Argentina. É denominado também como deserto, sertão, campo. O povo originário huarpe ocupou a parte central do território argentino. Os huarpes milcayac ocupavam a parte Norte do atual território mendoncino, no departamento de Lavalle. Um lugar rico em religiosidade e história, aqui é onde se assentaram os descendentes dos huarpes, que povoaram Mendonza há 500 anos, são os anfitriões desta nova missão evangelizadora, conhecidos como laguneros (lagoeiros), apelido que os identifica devido à pesca e agricultura que realizavam ao redor das lagoas.
As grandes lagoas de Guanacache e Rosário desapareceram no momento que começou a exploração do canal do rio Mendonza. A comunidade lagoeira foi obrigada a começar uma nova etapa na história sem abandonar estas terras. Esta é a motivação do SONHO DE UMA MISSÃO NO DESERTO do padre José Auletta, missionário da Consolata, que chegou em meados de dezembro de 2019 em Mendonza para realizar o serviço que lhe foi encomendado pelo bispo Marcelo Colombo para atender o seco deserto lavallino. Assumiu oficialmente no dia 22 de fevereiro de 2020. Ele pode percorrer os extensos territórios com o padre Maximiliano Goiia, que atendia a região nos últimos anos, e ficou impressionado pelas distâncias de uma comunidade à outra e surpreendido pela grande acolhida e amabilidade dos habitantes daquele lugar.
Uma profunda experiência religiosa foi vivida com o artesão huarpe da lagoa do Rosário, Rúben Días, que o apresentou à escultura de Cristo, talhada em Algarrobo (alfarrobeira). A madeira com a qual foi feita esta escultura é muito preciosa para os huarpes, já que o algarrobo é uma fonte de alimento e construção de objetos. Foi o próprio artesão que levou o Cristo em seus ombros até a capela. Ali foi possível sentir a presença de Deus e admirar a descrição que Rubén fazia da sua obra. Outro momento de religiosidade vivida pelo sacerdote missionário foi quando ele compartilhou a missa com uma família que recordava de uma falecida: “Dona Manuela”. No altar foi compartilhado a foto da mulher tecendo, algo muito tradicional na comunidade, recordando-a como uma tecelã da vida, da família. Ali também conheceu o guia espiritual da comunidade, que é convidado periodicamente para rezar o rosário, um homem caracterizado pela serenidade, tranquilidade e profundidade que transmite ao rezar. Ele pode viver essas participações religiosas com uma profunda admiração pela comunidade que leva consigo o próprio e o tradicional, junto com a vivência cristã e católica.
A comunidade huarpe luta pelo reconhecimento dos seus direitos desde a época da colonização, quando foram oprimidos e desalojados; e obrigados a se ocultar para poderem sobreviver no complexo lagoeiro de Huanacache. Muito tempo depois, em 1997, conseguiram ser reconhecidos como comunidades huarpes, começando um caminho público pelo reconhecimento e reivindicação de seus direitos sobre essas terras. Durante estes processos, os huarpes foram acompanhados na sua luta por duas figuras: O padre Jorge Contreras, que foi chamado “o padre das areias”; e o padre Benito Sellitto. Pelo trabalho que foi realizado no lugar, podemos falar de uma verdadeira PASTORAL DO DESERTO porque percorrem o deserto de ponta a ponta, não somente onde as populações estão aglomeradas, mas também pelos diferentes “puestos”, como são chamados os pequenos conjuntos de uma ou duas casinhas isoladas em meio do deserto, onde ocasionalmente tem um curral para a cria de cabras. Podemos falar de um testemunho de entrega da própria vida destes sacerdotes.
O sonho da missão para o deserto lavallino é acompanhar as comunidades na luta pelas terras, e pelo acesso à água. Este último tema está bastante latente nesta aridez que parece inabitável, já que estão recebendo água de umas perfurações que de acordo com as análises realizadas não estão aptas para o consumo. As denúncias são parte de um compromisso bastante profundo, formam parte de uma verdadeira e completa visão do que se chama Pastoral Aborígena. Se não há denúncia, se não há um acompanhamento na denúncia pela defesa dos seus direitos, tudo o que for oferecido a partir do religioso ou do evangelizador ficará vazio. Evangelho e vida caminham juntos de mãos dadas. O Evangelho tem a ver com a vida concreta, com o acompanhamento de pessoas que desejam viver com dignidade; sentindo-se legitimamente proprietária de sua terra, terra que é MÃE e IRMÃ.
Na atualidade a capela da Lagoa do Rosário, declarada Monumento histórico nacional devido a sua importância religiosa e cultural, está em fase de restauração. A cada ano ela recebe milhares de fiéis para celebrar, junto a todos os habitantes do deserto, em honra da Virgem do Rosário na Lagoa do Rosário. O padre José Aulleta nos convida para ir a Lavalle e nos tornarmos parte desta missão para acompanhá-lo na consolação do deserto. “Contemplávamos a Cristo, como se Ele falasse; Rubén, o artesão huarpe, explicou que escolheu a cor avermelhada para o corpo porque não podia imaginar quantas chicotadas recebeu esse corpo. Também explicava que a cabeça está inclinada para a esquerda como se tivesse expirado, mas conservando os olhos abertos, bem abertos, porque Jesus continua se compadecendo de tudo aquilo que a humanidade tem sofrido, especialmente agora. Pensei nele como o Cristo da pandemia…” (José Auletta, imc).