Lideranças Mura de Autazes e Careiro da Várzea, no Amazonas resistem ao assédio e cooptação da empresa Potássio do Brasil; 48 organizações da sociedade civil apoiam a resistência
Por Lígia Apel, Cimi Regional Norte 1
Em solidariedade e apoio ao povo Mura da região de Autazes e Careiro da Várzea, no Amazonas, 48 organizações da sociedade civil manifestaram, em nota, sua contrariedade ao processo de instalação da mineradora Potássio do Brasil. A empresa é subsidiária do banco comercial canadense Forbes & Manhattan, e incide sobre o território Indígena do povo Mura, que se encontra em processo de demarcação.
Em 2013, a empresa Potássio do Brasil começou a perfurar poços para a exploração de potássio sem o devido protocolo de consulta que deve ser instaurado para consulta prévia, livre e informada às populações indígenas da área diretamente afetada e adjacentes. Reivindicando que o processo fosse respeitado, o povo Mura entrou com pedido no Ministério Público Federal, e foi atendido, para que o empreendimento fosse paralisado e instaurado o processo de consulta.
Em 2013, a empresa Potássio do Brasil começou a perfurar poços para a exploração de potássio sem o devido protocolo de consulta
No entanto, a pressão sobre o povo Mura por parte da empresa e de políticos interessados no empreendimento, que é altamente lucrativo, “está forte e de má fé”, diz a nota das entidades indígenas e indigenistas.
“No mês de setembro passado foi noticiado na imprensa local o suposto apoio do povo Mura ao projeto de exploração mineral em suas terras pela empresa Potássio do Brasil. O anúncio foi comemorado e repercutido pelo governador do estado, pelo presidente da Potássio e deputados estaduais aliados à mineração em terras indígenas”, começa a nota, informando em seguida que lideranças Mura não concordam com o empreendimento. As organizações “declararam não pactuar com qualquer questão aprovada pelas costas, onde nem a aldeia nem o Tuxaua foram comunicados”.
A nota alerta para a denúncia das lideranças que, em reunião da Potássio do Brasil com indígenas, houve má fé, informações falsas e promessas de benefícios, em clara tentativa de cooptação das lideranças com a intenção de torná-los favoráveis ao empreendimento.
As organizações “declararam não pactuar com qualquer questão aprovada pelas costas, onde nem a aldeia nem o Tuxaua foram comunicados”
As lideranças “denunciam a atuação de má-fé do presidente da Potássio na reunião que teria resultado no anunciado apoio do povo Mura, afirmando que durante todo o discurso, o empresário repassou informações falsas, prometendo benefícios às comunidades e que o próprio presidente, pediu modificação no protocolo de consulta ao Povo Mura”, alertam.
A nota também apresenta a denúncia de que lideranças importantes estão sucumbindo ao assédio da empresa. “Lideranças chaves foram e estão sendo cooptadas, estão sendo inclusive ameaçadas, por políticos e por outras lideranças indígenas que estão à frente desse movimento pró-mineração. Somos contra mineração em nosso território, porque mineração pra nós é morte”, reafirmam no documento.
“Lideranças chaves foram e estão sendo cooptadas, estão sendo inclusive ameaçadas”
Pela resistência do povo Mura diante da nítida e desleal estratégia de cooptação e enfraquecimento do movimento indígena Mura, as organizações da sociedade civil se unem à sua luta.
“Diante da resistência do Povo Mura ao assédio, à cooptação, à deslealdade de parcela dos que representam o poder econômico e político no Amazonas, as organizações indígenas, indigenistas e demais organizações e coletivos da sociedade Civil se juntam à resistência desse povo e se posicionam ao lado das lideranças que lutam para que a morte trazida pela mineração não se implante em seu território”.
As organizações reafirmam, na nota, que estão unidas na resistência e enviam seu recado ao povo Mura: “manifestamos nossa solidariedade para com as lideranças Mura que resistem ao assédio, às ameaças e pedimos proteção às suas vidas que correm risco diante da resistência aos interesses dos poderosos. Afirmamos: os Mura que resistem não estão só! Nos juntamos, lutamos e teimamos com vocês para que o projeto de morte – como denunciado por vocês – seja parado e o território do Povo Mura seja terra livre novamente, e demarcado”, finaliza.
Leia a nota na íntegra.
Fonte: Cimi