Moçambique: ataque à comunidade comboniana deixa uma Irmã italiana morta

Irmã Maria De Coppi (à direita), comboniana morta em Moçambique. Foto: Vatican News

Os rebeldes atearam fogo à missão em Chipene, na fronteira com a província de Cabo Delgado norte de Moçambique. Dois padres fidei donum e duas Irmãs conseguiram escapar enquanto a Irmã Maria De Coppi não teve chance de se salvar. Ela estava no país africano desde 1963

Por Michele Raviart

A comunidade comboniana de Moçambique em Chipene, no norte do país, foi atacada na noite de 6-7 de setembro por um grupo armado não identificado. Irmã Maria De Coppi, 84 anos, de origem veneziana, e no país desde 1963, foi morta a tiros, provavelmente quando estava deixando a ala feminina da paróquia. Os dois sacerdotes fidei donum da diocese de Concordia-Pordenone foram salvos. São o Padre Loris Vignandel, 45 anos, originário de Corva e ex-pároco de Chions (Pordenone) e o Padre Lorenzo Barro, que foi reitor do seminário diocesano da cidade na Destra Tagliamento. Elas conseguiram escapar junto com duas outras freiras e logo se unirão ao bispo de Nacala, Monsenhor Alberto Vera Arèjula.

O grupo armado já se aproximava da missão há 24 horas, mas não tinha atravessado o rio Lurio, a fronteira natural com a província de Cabo Delgado, durante meses o cenário da violência perpetrada pelos grupos rebeldes. Durante a noite, porém, a invasão ocorreu, com muitas das estruturas da missão incendiadas, incluindo as obras paroquiais, o dormitório e a recém inaugurada sala de informática, enquanto os quartos onde os missionários se refugiaram foram poupados das chamas.

Em contato telefônico com os padres, naquelas horas terríveis, estava Alex Zappalà, diretor do centro missionário de Pordenone, de onde vêm os dois sobreviventes, que conta o que aconteceu. Desde um alarme inicial às 21h, até o medo do Padre Loris, algumas horas depois. “Vejo você no paraíso”, ele havia escrito ao ouvir os primeiros tiros. Depois, às três da manhã, o fogo na missão, com os dois sacerdotes se refugiando em duas salas que não foram tocadas pelos ataques e pelas chamas.

As condolências das Irmãs Combonianas
Irmã Maria De Coppi, missionária comboniana em moçambique desde 1963.

“Rezamos pelo descanso eterno de nossa Irmã”, é a mensagem de condolências de Irmã Enza Carini, Secretária Geral dos Missionários Combonianos: “Ela certamente intercederá pelo povo moçambicano e pela paz neste país que tanto amou”.

Em Moçambique para “estar perto do povo

Irmã Maria nasceu em 1939, em Santa Lucia di Piave, na província de Treviso, e depois se mudou com sua família para Ramera, também na região do Veneto. Chegou em Moçambique pela primeira vez em 1963, quando ainda era uma colônia portuguesa; tendo adquirido sua cidadania, Irmã Maria passou a fazer parte daquela terra e do povo com serviço constante em várias missões na província de Nampula. Como relatado pelo semanário veneziano L’Azione.it, que a havia entrevistado na Itália em 2021, os últimos dois anos em Moçambique haviam sido muito difíceis devido à guerra na província de Cabo Delgado, depois a passagem de um ciclone, e novamente a prolongada seca nos últimos anos. A missionária falou de extrema pobreza e das famílias em fuga. “Tento estar perto do povo”, disse ela, “especialmente ouvindo o que eles me dizem”. Apesar da pobreza material, ouvir os outros é um grande presente, é reconhecer sua dignidade”.

Ataque na missão em Chipene, na fronteira com a província de Cabo Delgado.
ACS: “Uma geração de deslocados está sendo criada”

“Mais uma testemunha de sangue: com muito sofrimento”, são as palavras de Alessandro Monteduro, diretor da Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACS) – Itália, comentando o assassinato da Irmã Maria De Coppi em Moçambique. “O crescimento e a concentração de organizações criminosas, a radicalização islâmica e o terrorismo jihadista desde outubro de 2017 representam as maiores ameaças à população, particularmente na província de Cabo Delgado, no norte do país. São milhares de vítimas de grupos terroristas locais, principalmente al-Sunna wa Jama’a, localmente conhecidos como al – Shabaab”, disse Monteduro em uma declaração.

Uma nova geração de deslocados internos está sendo criada e já somam mais de 800.000, e o governo é evidentemente incapaz de controlar as atividades criminosas e terroristas islâmicas”. O apelo da ACS Itália é que as autoridades civis e os líderes religiosos condenem e isolem a “radicalização com maior determinação”.

Dia 7 de setembro é também o oitavo aniversário do massacre das Missionárias de Maria Lúcia Pulici, Irmã Olga Raschietti e Irmã Bernadetta Bogian no Burundi. Oito anos depois”, escreve Monteduro, “os missionários e missionárias ainda estão pagando com seu sangue o trabalho de evangelização. O assassinato bárbaro da Irmã Maria De Coppi representa mais um golpe para a comunidade cristã em Moçambique e na África como um todo”.

O Arcebispo de Nampula: uma tragédia terrível

“As irmãs combonianas levaram de Chipene o corpo da Irmã Maria para enterrá-lo em outra missão”, diz Dom Inacio Saure, IMC, Arcebispo de Nampula, cuja diocese de Nacala, onde se encontra a missão de Chipene, e depende da Congregação para Evangelização dos Povos.

Sobre a identidade daqueles que perpetraram o ataque, Dom Suare diz que “não temos certeza se eles são terroristas islâmicos, embora seja muito provável que tenham sido eles que atacaram a missão”. A reação do povo”, explica o bispo, “aqui como em Cabo Delgado, é de fugir”. Não sabemos”, diz ele, “quantas pessoas procuraram refúgio na floresta. É um drama terrível e ainda difícil de quantificar”.

Fonte: Vatican News (tradução do italiano pela Redação)

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