Missionário da Consolata integra a nova vice-presidência da REPAM

Nova Presidência da REPAM 2026-2028: Presidente e Vice-presidentes

O missionário da Consolata, padre Julio Caldeira, foi nomeado este dia 27 de novembro como vice-presidente da Rede Eclesial Pan-amazônica (REPAM). Nesta entrevista ele partilha seu caminho missionário na Amazônia e suas expectativas diante da nova responsabilidade junto a Dom Rafael Cob (Equador), Ir. Ana María Palomina (Peru), Carol Jeri (Peru) e Dom Evaristo Spengler (Brasil).

Por Consolata América

A Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM) vive um momento significativo com a recente renovação de sua equipe de animação da presidência para o período 2026-2028. Nesta ocasião conversamos com o padre Julio Caldeira, missionário da Consolata, comunicador e formador, que foi nomeado para a nova presidência da Rede junto ao presidente Dom Rafael Cob e às vice-presidentes Ir. Ana María Palomina MML, Carol Jeri e Dom Evaristo Spengler OFM.

Com mais de 15 anos dedicados à missão na Amazônia — no Equador, Colômbia e Brasil — o Pe. Julio caminhou com diversos povos e processos eclesiais da região. Participou da fundação da REPAM em 2014 e da Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA) em 2020, além de colaborar na comunicação do Sínodo Amazônico de 2019 e da Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe de 2021.

Hoje, após um processo de discernimento, assume uma nova responsabilidade que confirma seu compromisso com a vida, os povos, a Amazônia e o rosto amazônico da Igreja.


Pe. Júlio Caldeira na Assembleia da REPAM 2024 – Foto: Vanessa Xisto/REPAM
ENTREVISTA

O padre Julio acaba de ser nomeado vice-presidente da REPAM. O que significa para o senhor assumir esta missão?

Recebo esta missão com gratidão e humildade, com grande espírito de serviço. Ter acompanhado a REPAM desde antes de seu nascimento, em 2014, faz com que este momento seja muito especial para mim.

Assumir como vice-presidente, fazendo equipe com Dom Rafael Cob, Ir. Ana María Palomina, Carol Jeri e Dom Evaristo Spengler, significa continuar tecendo juntos um serviço eclesial que defende a vida dos povos amazônicos e acompanha suas lutas e esperanças. Sinto-me honrado pela confiança, consciente do desafio e profundamente motivado pelo compromisso da nossa Igreja com a Amazônia.

Participantes presenciais na posse no dia 27 de novembro em Manaus – Foto: REPAM

Como nasceu sua vocação missionária e qual tem sido seu caminho na Amazônia?

Nasci no litoral brasileiro (Paraíba do Sul – Rio de Janeiro), mas sempre digo que sou “amazônico por adoção”. A querida Amazônia não apenas me acolheu; ela me formou. Minha vocação missionária é fruto da graça de Deus e do chamado a entregar a vida na missão nestas terras.

Como missionário da Consolata, nos últimos 15 anos vivi e servi no Equador, Colômbia e Brasil, em comunidades indígenas, ribeirinhas e urbanas, em processos sinodais e na comunicação eclesial. A Amazônia me ensinou a caminhar com os povos, a escutar suas lutas e a reconhecer Deus na vida que brota da floresta e de suas culturas.

Com grupo de kichwas amazônicos no Equador – Foto: Arquivo pessoal

Qual foi o seu papel na REPAM e no Sínodo Amazônico?

Venho participando do caminho sinodal da Igreja na Amazônia, especialmente nos processos que levaram à fundação da REPAM em 2014 e da CEAMA em 2020. Durante o Sínodo Amazônico de 2019 vivi um momento decisivo: acompanhei todo o processo e trabalhei na cobertura de imprensa, comunicando as mensagens e os avanços de uma experiência sinodal histórica para a Igreja.

Entre 2019 e 2023 fui assessor de imprensa e diretor de comunicação da REPAM, e desde 2020 integro o Conselho de Comunicação da CEAMA e, desde 2022, o Centro para as Comunicações do CELAM. Para mim, a comunicação amazônica é uma forma de missão e de defender a vida. Precisamos de uma comunicação transformadora, capaz de fortalecer os processos eclesiais na Pan-Amazônia, acompanhar os povos e construir processos comunicativos sociais, culturais, ecológicos e pastorais na defesa da vida, das culturas e da ecologia integral.

Na abertura do Sínodo Amazônico em 2019 – Foto: Jaime Patias IMC

Como você descreve a atual situação dos povos amazônicos?

Os povos amazônicos são guardiões de uma riqueza cultural, espiritual e ambiental inestimável. Sua vida está profundamente ligada à floresta, de onde tiram alimento, medicina e identidade. Entretanto, continuam enfrentando vulnerabilidades em saúde, educação, reconhecimento de territórios e respeito a seus direitos coletivos. Mesmo assim, mantêm viva uma cosmovisão baseada na “floresta vivente”, onde tudo está interligado — uma visão que é um verdadeiro dom para o mundo.

As maiores ameaças vêm da mentalidade da “cultura do descarte”, de projetos extrativos e de políticas que priorizam interesses econômicos acima da vida. Mineração legal e ilegal, desmatamento, monoculturas, exploração petrolífera e presença de grupos armados geram violência, contaminação, perda de biodiversidade e deslocamento de comunidades. Em muitos países repete-se o mesmo padrão: violação de direitos e enfraquecimento da autonomia dos povos.

A Amazônia também é terra de esperança. Líderes e lideranças indígenas, camponesas e urbanas, organizações sociais, universidades, igrejas e redes como a REPAM impulsionam processos de formação, defesa jurídica e incidência política.

Fortalecem-se alternativas sustentáveis, a agricultura familiar, a soberania alimentar e a proteção dos territórios. A espiritualidade, o protagonismo das mulheres e a solidariedade entre os povos são sinais de que um futuro possível — com a vida no centro — está sendo construído.

Visita a comunidades indígenas da fronteira colomboequatoriana – Foto: Arquivo pessoal

Em nível pessoal, como o senhor vive este novo compromisso?

Vivo com gratidão, consciente de meus limites físicos, mas confiando na graça de Deus. Depois de discernir com meus superiores, missionários e com os povos do território, confirmo que a Amazônia é parte essencial da minha vocação.

Nos últimos dois anos dediquei-me também a escrever dois livros: um compêndio dos documentos da Igreja sobre a Amazônia, intitulado “Igreja com rosto amazônico”, e um livro sobre os caminhos sinodais da Igreja na região, “Avancem para águas mais profundas” — ambos serão lançados em breve pela Editora CELAM.

Além disso, concluo meu serviço como Missionário e Mestre de Noviços em Manaus neste dezembro de 2025 e aguardo minha nova destinação em algum país amazônico, para seguir partilhando a vida com os povos e colaborar nessa missão na REPAM.

Encontro de Fundação da REPAM em 2014 – Foto: Arquivo pessoal

Que mensagem o senhor deseja deixar sobre a Amazônia e a missão?

A Amazônia é um pulmão espiritual para a Igreja. Como diz o Papa Francisco em Querida Amazônia, “sonho — junto com tantos irmãos e irmãs — com uma região que defenda a vida dos mais pobres, que cuide de sua diversidade cultural e natural, e que continue oferecendo à Igreja novos rostos com traços amazônicos” (QA 7).

Seguimos caminhando, escutando e sonhando com os povos amazônicos, em harmonia com o magistério da Igreja e com a certeza de que a esperança sempre brota da vida. E que essa vida — em todas as suas formas — seja sempre respeitada, protegida e celebrada.

Coletiva de Imprensa de apresentação – REPAM 27/11/2025

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