No final das discussões realizadas de 28 a 30 de novembro em Luque (Paraguai), uma reunião na qual foi oficializado o lançamento da Rede Eclesial do Gran Chaco e do Aquífero Guarani (REGCHAG), os responsáveis pela nova rede e representantes de cada um dos países presentes, Paraguai, Argentina, Bolívia e Uruguai, deram a conhecer o que viveram durante estes dias.
Por Luis Miguel Modino
Uma rede inspirada em “Laudato Si“, no pensamento do Papa Francisco, na Doutrina Social da Igreja, como recordou Dom José Ángel Macín, Bispo de Reconquista e coordenador de REGCHAG, que apelou a “um intercâmbio entre as diferentes organizações da Rede e também através das fronteiras entre as Igrejas dos países que compõem a Rede”. Uma Rede que se refere a duas regiões, o Gran Chaco e o Aquífero Guarní, que “têm muitas semelhanças, mas que também têm as suas diferenças”.
O bispo argentino salientou que a Rede quer servir o território, aprofundar o conhecimento deste território, e fazer alianças estratégicas. Em relação ao encontro, salientou que tinham sido “dias muito intensos onde foi possível fazer um primeiro diagnóstico da realidade e levantar muitos desafios”, procurando juntos o caminho a seguir e o estilo a seguir. Para este fim, foram estabelecidas ligações a diferentes níveis a fim de se poder tomar medidas para proteger o ambiente, a água e os povos indígenas.
A própria terra nos convida a uma comunhão que transcende fronteiras
Uma rede incipiente nas palavras de Dom Pedro Juvenbille, que como vice-presidente da Conferência Episcopal do Paraguai expressou a sua alegria com o lançamento da rede no país. Uma rede que ele vê como se “a própria terra nos convidasse a uma comunhão que transcende fronteiras”, recordando situações presentes na região que merecem uma resposta e, ao mesmo tempo, tornando visíveis as experiências que conseguem levá-lo a cabo, promovendo realidades sustentáveis que cuidam da casa comum.
Miguel Cruz recordou que, dada a urgência de acompanhar toda a diversidade dos povos, REGCHAG quer escutar os gritos e poder acompanhá-los em seu caminho face aos diferentes problemas que hoje surgem. O secretário executivo da nova rede afirmou que “queremos aderir ao projeto do Papa Francisco a nível universal como Igreja, o que nos chama a sensibilizar para a questão da ecologia integral”. Para tal, apelou a um caminho sinodal e à construção de um espaço onde as vozes sejam ouvidas.
Necessidade de ações concretas
Representando a delegação argentina, a Irmã Rosita Sidasmed, que manifestou o apoio da CLAR e da Vida Religiosa no seu país, vê a rede como “um espaço para responder aos apelos que sentimos nos nossos territórios”, que sofrem devastação como consequência da expansão da fronteira agrícola, da exploração mineira a céu aberto, da deflorestação, entre outras situações.
A partir daí, apelou à superação das fronteiras para a tomada de ações concretas em relação à ecologia integral, ouvindo o clamor dos territórios e dos povos, sem que os interesses económicos capitalistas e neoliberais atropelassem os direitos. Juntamente com isto, para assumir a economia de Francisco, procurando alternativas.
A líder do povo Guarani, Paulina Cuevas, expressou a sua gratidão pela possibilidade de estar neste espaço eclesial representando os povos indígenas. A indígena boliviana denunciou as feridas que já foram infligidas, e em vista disso sublinhou que “vamos trabalhar em coordenação, de mãos dadas, diante do nascimento da rede”, mostrando a vontade dos povos indígenas de acompanhar desde o território, de poder contar a sua cultura, história e identidade, e de deixar uma vida digna para os nossos jovens e crianças.
A partir daí, mostrou a necessidade de continuar a trabalhar para que as crianças e os jovens do povo Guarani estejam cientes das situações que estamos a viver em relação à mãe terra.
Problemáticas e realidades muito difíceis
Estes são territórios onde a população está a atravessar problemas e realidades muito difíceis, segundo José Ibarra, porta-voz da delegação paraguaia, que denunciou que “não são tidos em consideração como sujeitos destes territórios e os seus direitos fundamentais não são considerados”. Face a esta realidade, insistiu que “nós, enquanto rede, queremos ter uma atitude de escuta que nos conduza a um compromisso, a ações que temos vindo a identificar aqui”, algo que tornará possível melhores condições de vida nos territórios.
Nelson Villareal definiu este processo como algo que leva a repensar na prática, a comprometer-se a reconhecer-se como “parte da corporeidade do território e dos povos”, denunciando o facto de existirem coletivos que não são aceites nas nossas sociedades. A partir do conceito de ecologia social a que o Papa Francisco chama “a harmonia da natureza e da sociedade exige que reconheçamos as formas como a natureza está a ser explorada e a sociedade está a ser explorada e excluída”.
Perante isto, afirmou que “na medida em que nós nos abrimos a uma maneira diferente de ver as coisas, começamos a esperar construir outra prática, outra maneira de nos construirmos como sociedade, de nos construirmos como cultura, e também de nos construirmos como fé cristã“.
Tudo o que foi vivido e discutido foi colocado aos pés de Nossa Senhora de Caacupé, padroeira do Paraguai, numa missa celebrada no seu santuário, presidida pelo Cardeal Adalberto Martínez Flores, presidente do episcopado paraguaio, pedindo a intercessão de Maria, para que esta rede possa ajudar a sensibilizar para o cuidado da casa comum no território do Aquífero Guarani e do Gran Chaco.
Fonte: IHU-Adital