Diocese de Roraima participou da campanha “É tempo de cuidar”, da CNBB e Cáritas brasileira, beneficiando população vulnerável.
Por Stephen Ngari*
O valor que mais se destacou durante a pandemia em vários lugares é comunhão por meio da fraternidade e caridade. As pessoas, organizações e empresas manifestaram o espírito de comunhão na partilha de seus bens e pertences com os necessitados da sociedade. A Igreja de Roraima está sendo luz nesta escuridão da Covid-19.
Como no tempo do exílio, Deus sempre acompanha o seu povo. Numa visão, Ezequiel viu Deus sentado no trono que tinha quatro rodas que se moviam para todas as direções, (Ez 9 e 10). Deus está presente junto ao seu povo em todos os lugares e todas as situações. Deus não está fixo nas capelas, nas igrejas, nas catedrais ou nas basílicas. Deus está presente onde está o seu povo (Sl 138/139). Os fiéis permanecendo nos seus lares não estão longe de Deus. Lá Ele está com eles. Os que por doenças foram internados, até entubados, não estavam sozinhos. O Deus da vida os acompanha a cada minuto.
No calor da pandemia, o papa Francisco pediu aos ministros para não abandonarem o rebanho na hora que este mais necessita. Ele convidou os bispos, padres, religiosos e os líderes leigos a acompanharem os fiéis por meio das visitas e celebrações virtuais. Consequentemente, foram programadas missas e outras celebrações pelas redes sociais. Os meios de comunicação de massa, rádio e televisão, também oferecem horários para transmitir missas.
Na área missionária São João Batista, localizada na periferia da cidade de Boa Vista, diocese de Roraima, norte do Brasil, os missionários da Consolata continuam oferecendo o seu testemunho de consolação. A Área tem no total, 14 comunidades com três realidades diferentes. A área urbana onde fica a maioria delas, a área rural que atende aos pequenos agricultores e uma área que atende aos caseiros e empregados de sítios e chácaras. A mais distante encontra-se a mais de 30 km da cidade.
O acompanhamento espiritual é feito por duas missas dominicais pela página do facebook da Área. A primeira acontece no sábado às 18h e a segunda no domingo às 8h. Para evitar aglomeração, participa presencialmente somente a equipe da liturgia. Uma vez dentro da igreja observa-se a distância social, o uso de álcool em gel e o uso de máscaras, evitando o contato físico e partilha de objetos.
O bispo diocesano, dom Mario Antônio da Silva, também convidou e incentivou as comunidades a deixar as igrejas abertas aos sábados e domingos, preferencialmente nos horários que acontecem celebrações ou outras orações. Assim facilita para que os fiéis, cada um no seu horário, tenham um momento de oração pessoal e a visita ao Santíssimo. A catequese, onde possível, acontece pelos meios virtuais de comunicação da tecnologia que o mundo de hoje nos oferece.
Os missionários também acompanham os doentes e as famílias enlutadas ou pelo telefone quando possível, e com permissão da Vigilância Sanitária participam dos velórios e dos momentos da despedida dos falecidos junto com a família. Mais uma vez observam-se as orientações dos órgãos da saúde.
Igreja viva
A Igreja com portas fechadas não significa uma Igreja com coração fechado. Enquanto a pandemia levou ao fechamento das portas dos templos de oração, o Espírito Santo escancarou as portas do coração dos fiéis. Neste tempo testemunhamos uma partilha incrível; uma generosidade surpreendente por parte deles, organizações e empresários.
A diocese de Roraima lidou profeticamente, nestes últimos anos com a crise migratória dos venezuelanos. O poder público ficou ausente e deixou para a Igreja e as Organizações Não Governamentais (ONGs) assumirem toda a responsabilidade de acolher, proteger, promover e integrar os migrantes que chegavam ao estado de Roraima, principalmente na capital Boa Vista, aos milhares. Contudo, o governo federal por meio da operação acolhida do Exército entrou e construiu abrigos que acolhem mais de seis mil venezuelanos. Nessa situação, a pandemia agravou mais as condições de vida dessa população.
A diocese de Roraima participou da Ação Emergencial da Igreja no Brasil, a campanha “É Tempo de Cuidar” assumidamente. É uma campanha organizada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e a Cáritas Brasileira para arrecadar e distribuir alimentos, material de higiene e de proteção pessoal no contexto da pandemia para as famílias e pessoas carentes. Ela foi lançada na festa da Nossa Senhora de Fátima (13 de maio) e era para se encerrar na festa de Santo Antônio de Padova, (13 de junho). No entanto, as necessidades continuam e por isso, a campanha continua.
O bispo diocesano, dom Mário Antônio, motivou a população roraimense a participar da campanha. Ele enviou cartas e mensagens audiovisuais a todas as Paróquias e Áreas Missionárias da diocese pedindo que cada local organizasse sua campanha com reflexões, partilha de alimentos e identificação das famílias mais necessitadas. Foi composta uma equipe diocesana para motivação do lançamento na diocese e para a coleta de dados das doações.
A resposta foi animadora. Pessoas físicas, empresas e organizações acolheram o convite e abriram seus corações e partilharam seus bens. Além das doações das comunidades das Áreas Missionárias e Paróquias, a equipe recebeu kits de alimentos e material de higiene e proteção do Banco do Brasil, Acnur, Organização Internacional para as Migrações (OIM), Mesa Brasil, Universidade Federal de Roraima (UFRR), Roraima Energia, Ação Cidadania e outras campanhas pontuais.
A participação das comunidades de Áreas e Paróquias foi realizada na medida do possível, devido à crise gerada pela pandemia. Entretanto, a liderança das Áreas e Paróquias não mediu as forças na questão logística. Fizeram mapeamento das pessoas necessitadas, receberam as doações e entregaram às famílias, ajudando evitar aglomerações no ponto da distribuição.
Alvo da campanha
O bispo pediu para priorizar os que estão em destaque no Plano de Pastoral Diocesana: indígenas, migrantes, ribeirinhos, pequenos agricultores e moradores urbanos. São setores atingidos fortemente pela crise.
Segundo irmã Valdiza Carvalho, coordenadora da Cáritas Diocesana de Roraima, “não temos um mapeamento completo das doações, porque a campanha continua, mas já foram entregues mais de 5.686 cestas básicas; 4.256 kits de higiene; 1200 máscaras; álcool em gel e mosqueteiros, entre outros itens. Foi feito um aplicativo da “Campanha É tempo de cuidar” e todas as Paróquias, Áreas Missionárias e instituições podem registrar suas doações”.
O padre Eugênio Bento, imc, responsável da Área Missionária São Joao Batista, diz que a campanha atendeu aos migrantes, indígenas, trabalhadores do campo, desempregados, idosos, população em situação de rua, trabalhadores informais, pessoas com deficiência e moradores de ocupação urbana presentes na Área. As pastorais das comunidades receberam os alimentos e os kits de higiene da Secretaria da Área e os entregaram às famílias nas próprias casas. Aproveitou-se o momento para manter vivo o contato direto com as comunidades e as famílias.
Apesar da pandemia do Coronavírus ter criado e continuar criando muita dor e luto nas famílias e na sociedade, ela ajudou a descobrir nova forma de pastoral espiritual e social, pelo meio da tecnologia atual das redes sociais digitais. “Assim está sendo a nossa presença missionária na Área neste tempo da pandemia. Conseguimos entrar em contato e acompanhar as famílias, especialmente as enlutadas, e as demais na cidade e nos lugares longínquos, testemunhando o nosso carisma de consolação”, conclui padre Eugênio Bento.
*Stephen Ngari, imc, é missionário em Roraima.