Hutukara denuncia morte de duas crianças Yanomami em decorrência do garimpo

Em sobrevoo realizado em maio de 2020, em Roraima, o Greenpeace registrou invasão de garimpeiros na Terra Indígena Yanomami. Foto: Chico Batata/ Greenpeace

A Nota da Associação Hutukara é mais uma denúncia de que o aumento do garimpo na Terra Indígena Yanomami é responsável pelo aumento, também, da vulnerabilidade das comunidades

Por Assessoria de Comunicação do Cimi Regional Norte I

“A morte das duas crianças Yanomami é mais um triste resultado da presença do garimpo na Terra Indígena Yanomami (TIY), que segue invadida por mais de 20 mil garimpeiros”, diz a nota da Hutukara Associação Yanomami sobre o acidente fatal de duas crianças envolvendo uma draga instalada em uma balsa de garimpo em seu território.

Lideranças da comunidade Macuxi Yano, região do rio Parima, informaram, na última quarta-feira, 13, à coordenação da Hutukara que dois meninos, de cinco e sete anos, estavam desaparecidos. Segundo os relatos, eles brincavam “próximos à balsa de um garimpo instalada no local”. Imediatamente, a coordenação da Hutukara acionou o Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Y´ekwana (Condisi-Y) e o Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (Desei-Y), que disponibilizou uma aeronave para o sobrevoo no local. A Fundação Nacional do Índio (Funai) e o Corpo de Bombeiros foram acionados pelo Condisi-Y e, no mesmo dia, os bombeiros iniciaram as buscas. A Funai não se manifestou até o momento dessa publicação.

“A morte das duas crianças Yanomami é mais um triste resultado da presença do garimpo na TI Yanomami, que segue invadida por mais de 20 mil garimpeiros”

À tarde do dia 13, o corpo do menino de cinco anos foi encontrado pela comunidade e, na quinta feira, 14, os Bombeiros encontraram o menino de sete anos.

A nota da Hutukara traz dados estatísticos de um aumento estrondoso do garimpo na região do rio Parima, nas proximidades da comunidade Macuxi Yano. Em relação a dezembro de 2020, a floresta degradada aumentou em 118,96 hectares. Significa que mais 53% da floresta foi derrubada em menos de um ano na região. Significa, também, que as comunidades próximas da instalação do garimpo estão mais vulneráveis às ações dos garimpeiros pelo aumento do número de pessoas que vem ali se instalando para desenvolver o garimpo, bem como atividades de suporte a ele.

Devastação causada pelo garimpo na TI Yanomami, em Roraima, registrada em maio de 2020. Estima-se a presença de 20 mil garimpeiros ilegais na Terra Indígena. Foto: Chico Batata/Greenpeace

O relatório “Cicatrizes na Floresta: Evolução do garimpo ilegal na TI Yanomami em 2020”, elaborado pela Hutukara Associação Yanomami e pela Associação Wanasseduume Ye’kwana, com assessoria técnica do Instituto Socioambiental, diz que uma das modalidades do garimpo na TIY “utiliza dragas flutuantes localizadas nos leitos de grandes rios”, como é o caso dos rios Uraricoera, Mucajaí, Catrimani e Parima.

“As comunidades próximas da instalação do garimpo estão mais vulneráveis às ações dos garimpeiros pelo aumento do número de pessoas que vem ali se instalando para desenvolver o garimpo”

Na região do Parima, segundo o relatório, “desde o auge da corrida do ouro na Terra Indígena Yanomami, nas décadas de 1980 e 1990, não se observava uma movimentação tão intensa no rio”, o que remete, mais uma vez, ao aumento da vulnerabilidade dos Yanomami frente aos garimpeiros.

Pelo menos dois fatos ocorridos em 2020, divulgados pela imprensa e verificados no estudo da Hutukara, demonstram essa vulnerabilidade e consequentes riscos à vida dos indígenas. Em junho de 2020, dois Yanomami foram assassinados em um conflito com garimpeiros e o “relato obtido na época dava conta de como o garimpo na região vinha se intensificando, com aumento das hostilidades para com os indígenas”. Em dezembro daquele ano, “o cantor paraense Wanderley Andrade realizou um show a convite de garimpeiros no interior da TIY, evidenciando simultaneamente a consolidação dos acampamentos garimpeiros e a certeza de impunidade”, denuncia o relatório.

A nota da Hutukara traz, ainda, o alerta feito em setembro de 2021 pelo Fórum de Lideranças da Terra Indígena Yanomami: “o aumento da atividade garimpeira ilegal na TIY está se refletindo em mais insegurança, violência, doenças e morte para os Yanomami e Ye´kwana”.

“O aumento da atividade garimpeira ilegal na TIY está se refletindo em mais insegurança, violência, doenças e morte para os Yanomami e Ye´kwana”

Garimpo na Terra Indígena Yanomami. Foto: Hutukara

O Conselho Indigenista Missionário (CIMI) manifesta sua profunda dor pela morte das duas crianças e sua solidariedade com os povos Yanomami e Ye’kuana. Também expressamos nossa indignação diante da permanência e o aumento expressivo do garimpo na Terra Indígena Yanomami, sustentados pela inação do Estado brasileiro, omisso a suas responsabilidades constitucionais e às decisões da Justiça, bem como evidenciada ineficácia das operações pontuais dos últimos anos. É absolutamente imprescindível que o Estado brasileiro cumpra com sua obrigação constitucional de proteção das terras indígenas.

Basta de mortes e de violência contra os povos indígenas!

Confira a Nota da Hutukara na íntegra.

Fonte: Cimi

Conteúdo Relacionado