Conferência Regional reflete sobre estas duas opções missionárias, que são realizadas pelos missionários em coordenação com a Igrejas locais, instituições eclesiais e organizações civis aliadas à defesa dos povos indígenas e afro no Brasil e em todo o continente.
Por Júlio Caldeira imc
No segundo dia de trabalhos da Conferência Regional, nesta terça-feira, 7 de maio, os missionários que acompanham as missões com os afro-brasileiros e povos indígenas na Amazônia, apresentaram um panorama das atividades realizadas no último sexênio, bem como algumas reflexões e projeções para a continuidade do serviço missionário da Consolata no Brasil.
Estas duas opções missionárias são realizadas em coordenação com a Igrejas locais, instituições eclesiais e organizações civis aliadas à defesa dos povos indígenas e afro no Brasil e em todo o continente.
Reconhecer o protagonismo do povo negro
Nas últimas décadas, muitos missionários da Consolata estiveram acompanhando realidades e a pastoral afro, especialmente na Bahia, São Paulo e Rio de Janeiro, e de histórica coordenação com as instituições da Pastoral no Brasil e no continente.
Padre Ibrahim Muinde, que coordena a comissão dos missionários da Consolata nesta opção destaca que “nossa esperança é que esta proposta pastoral da Igreja chegue efetivamente ao interior da própria Igreja, nas Dioceses, paróquias e comunidades de base, para que esta conscientização sensibilização ação seja parte da vida concreta do povo. Essa é a grande esperança que nos move, para que tenhamos uma sociedade verdadeiramente de irmãos e irmãs, unidos na comunhão”.
Recordando que 56% da população brasileira é de origem afrodescendente, “o esforço que a sociedade e a Igreja têm que realizar é seguir superando uma estrutura muitas vezes ‘racista’ e que invisibiliza o povo negro, e que tem dificuldade em reconhecer o protagonismo, beleza e contribuição que o negro podem dar para um mundo melhor”, afirma o presbítero.
Atualmente este serviço missionário está sendo realizado a partir de nossas presenças em Feira de Santana, Bahia, na primeira paróquia quilombola do país, e em Engenheiro Pedreira, diocese de Nova Iguaçu – RJ. Os missionários que estudam teologia em São Paulo também realizam um caminho de inserção nesta realidade.
Pe. Muinde conclui dizendo que “como missionários da Consolata somos chamados a criar novos espaços para a promoção da pastoral afro nas paróquias e espaços onde atuamos. Outro ponto é favorecer a formação de novos missionários disponíveis em conhecer e servir ao povo nesta opção. Por fim é importante avançar nas coordenações e trabalho conjunto a nível de todo o continente, com intercâmbio de experiencias que fortalecem mais ainda essa missão junto ao povo negro”.
Amar e respeitar os povos indígenas
A opção indígena na Amazônia é outro dos serviços que os missionários realizam no Brasil desde 1948, especificamente no estado de Roraima. Foram momentos históricos e proféticos vividos e assumidos junto aos povos indígenas nas lutas e reconhecimento de seus territórios tradicionais, e são muitos os desafios que tem os missionários que chegam.
Neste sentido, o irmão Carlo Zacquini, missionário italiano que está por completar sessenta anos no Brasil e especificamente em Roraima, onde diz que como missionários “temos o desafio cultural, da língua, do modo de viver naquele ambiente, bem como o econômico, pelos altos custos em manter esse trabalho missionário”.
“Um missionário que ingressa a essa realidade tem que ir com a cabeça aberta, disponível para observar, ouvir e aprender. É importante uma mínima preparação, como umas normas básicas de linguística para o estudo da língua”, observa o religioso que chegou em fevereiro de 1965, ao Territorio Federal de Roraima, como era chamado o atual estado de Roraima.
Recordando sua vivência, conhecimento e partilha com os povos yanomami, recorda o esforço realizados neste acompanhamento desde sua chegada, a princípio para implementar uma escola profissional em Boa Vista, onde passou pouco tempo. Depois do contato com a realidade e ouvindo falar dos “índios bravos e perigosos que viviam no mato”, como o povo chamava os yanomami, foi chamado a estar com eles, pra nunca mais deixar.
“Em 1968 entrei pra estar lá um mês, mas acabei ficando, aprendendo muito da cultura, língua e vida cotidiana dos yanomami. Nestes anos acompanhei muitas situações: desde os desastres causados pela construção da estrada nos anos 70, passando pelos esforços para criar o parque Yanomami, e na luta política para a defesa da vida e reconhecimento da terra desse povo. Foi uma luta que resultou na homologação do território Yanomami em 1992”, descreve irmão Zacquini.
Atualmente o religioso está dedicado na implementação do CDI – Centro de Documentação Indígena, que funciona em Boa Vista e conta com um acervo de mais de 6.000 documentos, publicações, imagens, audiovisuais e importantes materiais, a disposição de quem necessite.
Conclui dizendo que “é uma experiência de vida incomparável e única viver com os yanomami, onde aprendi muito. Apesar de muitas mudanças, aprendi a amar esse povo, a respeitar e não menosprezar a sabedoria deles, que tem muito mais conhecimentos que nós temos em muitas áreas, com práticas diferentes das nossos para ensiná-los entre si”.
Atualmente os missionários da Consolata no Brasil dedicam-se ao acompanhamento dos Territórios Indígenas Yanomami (missão Catrimani) e Raposa Serra do Sol (missões Maturuca, Raposa, Cantagalo e Baixo Cotingo), bem como aos indígenas warao, a maioria provenientes da nossa missão no Delta Amacuro – Venezuela, e com o Centro de Documentação Indígena – CDI, em Boa Vista – RR.
Vida Consagrada e Igreja na Pan-Amazônia
O Instituto também se destaca por sua histórica disponibilidade em apoiar os serviços da Igreja a partir das opções missionárias. Neste momento o Pe. Josky Menga está servindo a Conferência de Religiosos do Brasil – CRB no setor Novas Gerações e para a Missão Jovem na Amazônia. Ele apresentou à comunidade sobre o trabalho de coordenação e articulação da vida consagrada jovem no país, que começou em 2023, e que se destaca pelo processo interativo entre as várias gerações, em vista de ressignificar a Vida Religiosa Consagrada, que se faz por meio de grupos de vivência e encontros.
Por sua parte, o Pe. Júlio Caldeira recordou que os missionários da Consolata são cofundadores da Rede Eclesial Pan-Amazônica em 2014; e que foi liberado para servir à Secretaria Executiva de 2019 a 2023, articulando e coordenando o setor de comunicações dessa importante instituição da Igreja na Amazônia nos nove países. Neste momento está dedicado a recopilar a história desse caminho histórico da Igreja na região Pan-Amazônica, que em breve será lançada em um livro em espanhol e português, assim como outros materiais.
A Conferência Regional dos missionários da Consolata seguirá aprofundando e projetando a missão no Brasil até a próxima sexta-feira.