Equipe Itinerante: os desafios na realidade dos imigrantes venezuelanos

15 de abril de 2021
Visita à famílias de venezuelanos na Vila Olímpia, periferia de Boa Vista. Fotos: Isacck Mdindile

A pandemia de Covid-19 nos ensinou a buscar novas formas de viver a missão adaptando-nos às “novas normalidades” que também mudam. Temos que ser flexíveis e fazer projetos a curto prazo, porque em pouco tempo, a realidade dos migrantes muda.

Por Joseph Onyango Oiye *

Esta é a situação em que se encontra nossa Equipe Missionária Itinerante dos missionários da Consolata que acompanha os imigrantes venezuelanos em Boa Vista, Roraima.

A dispersão dos mais de 800 imigrantes (indígenas e não indígenas) da antiga comunidade Ka Ubanoko que no início deste ano tiveram que deixar o local onde se encontravam desde março de 2018, gerou uma mudança drástica no acompanhamento aos venezuelanos em Boa Vista. Lembrando que no Ka Ubanoko os imigrantes estavam organizados de forma autônoma e com o apoio de suas lideranças (caciques) compartilhavam o espaço do antigo Jóquei Clube. A comunidade era formada por indígenas das etnias warao, pemon, eñepa e kariña, e por não indígenas. A dinâmica do acompanhamento da Equipe Itinerante se concentrava nessa comunidade e no apoio à algumas famílias em situação de extrema necessidade foras dos abrigos.

Agora a situação mudou e é preciso ir onde os migrantes se encontram. Por decisão da Operação Acolhida, coordenada pelo Exército brasileiro, os cerca de 850 imigrantes foram despojados e mudaram para diferentes lugares: alguns alugaram casas, outros foram para abrigos ou viajaram para outras cidades. Tem famílias que voltaram para a rua. A Equipe Itinerante tem apoiado com parte de alguns alugueis divididos entre grupos de famílias. Os indígenas que foram para o Abrigo Floresta não estão contentes pois, perderam a autonomia na gestão da vida da comunidade. A situação está ficando cada vez mais complicada. Em meio à pandemia, sem trabalho e com filhos pequenos, as famílias fora dos abrigos precisam garantir alimentação e o aluguel. A Equipe Itinerante não mede esforços para acompanhar essas famílias em diferentes locais da cidade.

A pandemia no Brasil é cada vez mais preocupante. Um dos desafios é o aumento constante nos preços dos aluguéis. Isso implica um ajuste econômico para os imigrantes que não têm renda.

Prioridades da missão

Em meio a tantas necessidades, a Equipe Itinerante teve de escolher algumas prioridades: acompanhar os indígenas warao e outras etnias; ajudar as famílias com crianças em especial na sua alimentação; apoiar algumas famílias com parte dos alugueis; e somar esforços com outras organizações para apoiar um grupo de famílias indígenas na organização da comunidade em um novo terreno adquirido no município de Cantá.

Vista do terreno de Cantá onde o povo warao pretende organizar uma comunidade.

Com a experiência feita no Ka Ubanoko, os indígenas pretendem organizar uma comunidade autônoma e liberdade segundo seus valores culturais. Para eles, a vida nos abrigos não tem futuro. O desafio é colaborar com outras entidades que também servem a mesma causa sem criar expectativas que não se podem concretizar. É preciso continuar a incentivar os imigrantes no seu protagonismo e ao mesmo tempo, trabalhar em rede com as outras organizações e a diocese de Roraima.

Equipe Missionária Itinerante

Ciada em março de 2018, a Equipe Missionária Itinerante é uma iniciativa dos Missionários da Consolata no Continente Americano com a missão de trabalhar em situações de emergência à exemplo da acolhida aos imigrantes venezuelanos em Boa Vista, Roraima. Desde o início das atividades já participaram da Equipe, 14 missionários das circunscrições IMC Brasil, Colômbia, Venezuela e Canadá-EUA-México. Atualmente atuam os padres Isaak Mdindile, Joseph Onyango e Claudio Cobalchini.

* Padre Joseph Onyango Oiye, IMC, é missionário queniano no México e novo integrante da Equipe Itinerante em Boa Vista (RR).

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