
Campanha “Em Fuga” chama atenção da sociedade sobre a situação das pessoas que são forçadas a se deslocarem dentro de seus próprios países. Iniciativa aponta as causas e as consequências desses deslocamentos e pede atenção especial para o problema.
Por Carolina Morais *
Por ocasião do Dia Mundial do Migrante e do Refugiado 2020 proposto pelo Pontifício Conselho para os Migrantes e Itinerantes, do Vaticano, a Congregação das Irmãs Missionárias Scalabrinianas da Província Maria, Mãe dos Migrantes, América do Sul e África, promove a Campanha “Em fuga”.
O evento realizado, entre os dias 14 e 30 de setembro, mostra as diversas situações de deslocamento interno no mundo, suas causas e consequências. O ator Eduardo Mossri, que tem abraçado a causa da migração e do refúgio, fala sobre a Campanha “Em Fuga”. Assista ao vídeo:
A cada segundo, uma pessoa é forçada a abandonar sua casa em algum lugar do planeta. Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), dos 79,5 milhões de deslocados no mundo, até o fim do ano passado, 45,7 milhões são deslocados internos que fugiram para outras áreas dentro de seus próprios países sem perspectiva de retorno.
Este último grupo é composto por pessoas que foram forçadas a deixar seus lares por razões similares às dos refugiados, tais como perseguições, desastres naturais, falta de recursos, conflito armado, violência generalizada e grave violação dos direitos humanos que migram de uma região para outra, dentro do próprio país.

De acordo com o relatório Tendências Globais do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, de junho de 2020, a Colômbia é o país que possui mais pessoas deslocadas, ao todo foram 7,4 milhões. A violência associada ao tráfico de drogas é uma das principais causas. O estudo estima que 1% da humanidade se deslocou forçadamente em 2019, aproximadamente 79,5 milhões de pessoas.
Desde 2011, a Síria sofre com uma crise política causada por uma forte centralização do poder nas mãos do ditador Bashar al-Assad, além de uma enorme pressão de grupos como o Estado Islâmico. Esses conflitos levaram 6,6 milhões de sírios a migrar para outras regiões do país em 2019. Outro país que contou com um grande número de deslocados internos em 2019 foi a República Democrática do Congo, com 5 milhões de pessoas.
Em 4º lugar no ranking de deslocamentos internos do mundo está o Iêmen, com 2,5 milhões de pessoas em 2019 seguido da Somália com mais de 1,5 milhões de pessoas obrigadas a se mudar em decorrência de crises de insegurança, secas e enchentes.

Em mensagem oficial sobre o tema, o Santo Padre comentou que “os conflitos e as emergências humanitárias, agravadas pelas convulsões climáticas, aumentam o número dos deslocados e repercutem-se sobre as pessoas que já vivem em grave estado de pobreza. ”
Brasil: um descolado por minuto
Entre os anos 2000 e 2017, estima-se que o Brasil teve 7,7 milhões de deslocados internos, ou seja, uma pessoa por minuto. Os dados são do Observatório de Migrações Forçadas do Instituto Igarapé que mapeou também os casos mais emblemáticos de deslocamento interno. Entre eles, está o rompimento da barragem de Fundão, localizada no município de Mariana (MG), em 2015. Este foi um dos maiores desastres provocados pelo homem da história do Brasil. Vilas inteiras foram destruídas e 1.361 pessoas foram deslocadas.

A cidade de Brumadinho (MG) enfrentou uma tragédia semelhante em 2019, com o rompimento da barragem da empresa Vale do Rio Doce, o qual ficou conhecido como o maior acidente de trabalho no Brasil em perda de vidas humanas e o segundo maior desastre industrial do século. O desastre industrial, humanitário e ambiental causou a morte de 259 pessoas, o desaparecimento de outras 11 e o deslocamento em massa das vidas que restaram.
Sobre as estatísticas dos deslocamentos no Brasil, cerca de 6 milhões de pessoas foram obrigadas a se mudar devido a desastres, como inundações e deslizamentos de terra. Por outro lado, obras de infraestrutura, como barragens hidrelétricas e estradas, provocaram o deslocamento de quase 1,3 milhão de pessoas no país.
A exemplo de obras de infraestrutura que geram deslocamentos, destaca-se o alagamento do reservatório da Usina de Belo Monte, em Altamira (PA), que encobriu uma área de 516 km² das águas do rio Xingu. Com a obra, muitas famílias ribeirinhas e povos indígenas foram deslocados para regiões próximas e ainda esperam para serem reassentadas. O Conselho Ribeirinho, formado por 22 membros das comunidades afetadas, estima que das 313 famílias impactadas por Belo Monte, 212 ainda esperam para serem reassentadas.

Com relação à causa indígena, os deslocamentos são ainda mais graves. Territórios são invadidos sem motivo aparente e no caso Guarani Kaiowá, a situação tem levado a suicídios, fome, violência e confinamento em reservas. Algumas aldeias foram removidas por causa do uso abusivo de agrotóxicos pelas fazendas no entorno das comunidades.
* Carolina Morais é jornalista, Imprensa Scalabriniana.