Cardeal Grech: “Sínodo da sinodalidade deve ajudar a aprofundar a eclesiologia”

Bispos do Regional Noroeste e Norte 1 reunidos com o Cardeal Mário Grech, Secretário do Sínodo dos Bispos. Fotos: Luis Modino

Um grupo de bispos do Regional Noroeste e Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), se encontrou com o Cardeal Mário Grech, Secretário do Sínodo dos Bispos, para partilhar a caminhada do Sínodo em diferentes dioceses e prelazias da Amazônia.

Por Luis Miguel Modino *

Os bispos partilharam os passos dados ao longo do processo de escuta na fase diocesana, que se concluirá nas próximas semanas. Segundo os bispos, as Igrejas da Amazônia estão preparadas para esse processo de escuta dado o caminho feito no Sínodo para a Amazônia. Nesse sentido, foi destacado que os povos indígenas se sentem valorizados por serem escutados de novo pelo Papa Francisco.

A Igreja da Amazônia tem uma caminhada sinodal que se remonta a Santarém e o Documento surgido naquele encontro em 1972, algo que marcou a caminhada eclesial na região, onde as assembleias sinodais sempre foram comuns em muitas dioceses e prelazias, com uma grande presença de leigos com voz e voto. Alguns bispos partilharam que aqueles que estão oferecendo maior resistência ao processo sinodal são os padres novos, chegando em alguns casos a bloquear o processo.

Cardeal Mário Grech, Secretário do Sínodo dos Bispos.

Não podemos esquecer que a Igreja da Amazônia, segundo foi comentado no diálogo, é uma Igreja laical. Em muitas comunidades a presença dos presbíteros é uma ou duas vezes por ano, e são os leigos e leigas que sustenta a vida da Igreja nesses locais. O próprio cardeal Grech reconheceu que essa caminhada sinodal na Igreja do Brasil e da América Latina é a fonte da vida no continente latino-americano e caribenho.

Foi colocado como grande desafio a formação de lideranças, reconhecendo a falta de recursos humanos e econômicos para fazer isso realidade. O Secretário do Sínodo dos Bispos afirmou a importância da formação, mas também advertiu sobre a necessidade de cuidado para não criar grupos de elite. Em algumas dioceses esses espaços de formação já existem, sendo fonte de novas lideranças e espaços que mudam o coração das pessoas.

Em relação com o Sínodo para a Amazônia, os bispos afirmaram que a grande maioria das pessoas acolhem, mas também existem pequenos grupos, incentivados pelo poder econômico e político que se empenham em ir contra as propostas do Sínodo para a Amazônia. Trata-se de grupos negativos, agressivos nas redes sociais, contrários ao Papa Francisco e ao Vaticano II, dominados pelo pietismo.

Nesse sentido, foi colocado que a pandemia travou a aplicação e divulgação do Sínodo para a Amazônia na região. Alguns bispos comentaram que na verdade, a caminhada sinodal no Brasil já foi muito mais forte. O Sínodo para a Amazônia e o Sínodo da Sinodalidade, leva a retomar o vivenciado, o cuidado com a Criação e com os pobres. Ao elo do Sínodo para a Amazônia, se insistiu em que para ser Igreja de presença e não só de visita, uma de suas propostas, se faz mais do que necessário a formação do laicato.

Grupo de bispos do Regional Noroeste e Norte 1 da CNBB em Roma.

Foi colocado em destaque a retomada do Documento de Santarém, algo que aconteceu recentemente com a realização do encontro em que se fez memória do Documento de 1972, sendo elaborado um novo documento que Dom Leonardo Steiner entregou ao Papa Francisco, que mostrou sua vontade de ler. Um Documento que retoma as linhas prioritárias de 1972: encarnação na realidade e evangelização libertadora, agora iluminado com novos desafios, principalmente o fechamento para a questão social, o que provoca ataques contra ataques contra a Igreja.

Na Amazônia existem realidades que geram graves dificuldades, como é o narcotráfico, o avanço do desmatamento, garimpo, agronegócio, a falta de emprego, o descaso com a educação, moradia, saúde, tudo o que faz com que falte uma vida digna para o povo. Ao mesmo tempo, os bispos tem manifestado ao cardeal Grech sua alegria diante das iniciativas de cuidado do Papa Francisco com a Amazônia.

Foi colocado como o Sínodo para a Amazônia ajudou a avançar no caminho da ministerialidade. Junto com isso os bispos abordaram a questão da formação nos seminários como um grave problema. Os bispos estão preocupados diante da falta de conhecimento do Concílio Vaticano II. Diante disso, o Sínodo sobre a sinodalidade deve ajudar, segundo o cardeal Grech, a aprofundar a eclesiologia e o sentido do ministério ordenado. Ele também colocou os passos a serem dados na fase continental do Sínodo, com assembleias eclesiais para escutar o povo de Deus e depois assembleias episcopais, ressaltando novamente as palavras do Papa Francisco em que adverte sobre a necessidade de evitar que as assembleias eclesiais se tornem grupos de elite.

* Padre Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

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