CAM de Turim: Pontes de acessibilidade à cultura

Padre Ugo Pozzoli, padre Gianni Treglia e Simona Borello. Fotos: CAM/Mediacor

O primeiro ano de atividades do Centro “Cultures and Mission”. “Acessibilidade à cultura, cidadania responsável e impacto social” são as palavras-chave das comemorações do CAM no dia 17 de maio 2024 em Turim na Itália.

Por Simona Borello *

Construir pontes entre os povos e a acessibilidade da cultura são os objetivos centrais dos projetos realizados neste primeiro ano de vida do “Cultures and Mission” (CAM), – o Polo Cultural Missionário –nascido em abril de 2023 a partir do desejo do Instituto Missões Consolata de valorizar o precioso patrimônio etnográfico e natural, preservado na Casa Mãe desde o início do século XX. Muitas foram as atividades realizadas para promover o intercâmbio cultural neste primeiro ano do CAM, partilhadas nesta sexta-feira, 17 de maio, na sua sede, em Turim.

Um primeiro ano sob a bandeira da interculturalidade e da inclusão para gerar um impacto positivo em cascata a fim de envolver mais pessoas, ultrapassando obstáculos como a disponibilidade econômica e as deficiências. Desde o início, o trabalho do CAM procurou capilaridade no território para uma educação abrangente e profunda a fim de superar preconceitos e construir laços de fraternidade entre pessoas e povos, alargando os horizontes geográficos, culturais e espirituais.

Vídeo das celebrações do primeiro ano de atividades do CAM

No CAM, a cultura é de todos

O dia 17 de maio não é uma causalidade, mas coincide com o Dia Mundial da Acessibilidade Digital.

Nesse sentido, todos os espaços de exposição do CAM foram equipados com rede wi-fi para permitir a utilização otimizada dos aplicativos para smartphones, como a do Centro, na qual é possível encontrar todos os percursos nas várias línguas, inclusive para pessoas com deficiência auditiva ou visual. Através de um sistema de animação do percurso da exposição, é possível escolher entre uma visita automática e uma visita manual, adequada a pessoas com deficiência: nos últimos meses, as opções de utilização manual foram alargadas, integrando-as num tablet. O guia de conteúdos, elaborado com caracteres EasyReading, um tipo de letra mais legível para pessoas com dislexia é mais um elemento de inclusão para pessoas com necessidades específicas.

A este respeito, o CAM também pode ser utilizado por pessoas com deficiências e perturbações da comunicação graças aos suportes em símbolos CAA (Comunicação Aumentativa Alternativa), desenvolvidos com a Fundação Paideia, para chegar a pessoas com necessidades de comunicação complexas que não têm acesso à comunicação verbal. Além disso, está disponível uma Visita Virtual para pessoas com deficiências motoras complexas que não conseguem chegar ao Centro.

Em colaboração com o Instituto dos Surdos de Turim, os vídeos foram traduzidos para a Língua Gestual Italiana (LIS) e, com o apoio da União Italiana de Cegos e hipovidentes de Turim, foi criado um percurso de exploração tátil através de oito objetos materiais, trabalhando a acessibilidade para pessoas com deficiência visual ou cegas: Foram escolhidos seis objetos da coleção etnográfica, de modo a que os materiais originais pudessem também ser percebidos, enquanto uma cópia de um precioso crucifixo foi reconstruída em alumínio e foi feito um relevo da capa de um antigo dicionário feito à mão.

Visitantes estrangeiros

Abrir a experiência cultural também aos visitantes estrangeiros, que a partir deste ano podem facilmente visitar as exposições graças à tradução dos conteúdos áudio para inglês, espanhol e português. Mas a acessibilidade da cultura também deve ser econômica, pelo que as iniciativas do CAM se caracterizam pelo acesso através de ofertas gratuitas, o que permite a qualquer pessoa participar livremente. Para além disso, os missionários que administram o Centro Cultural e alguns funcionários e consultores da Fundação realizaram, em conjunto com a Fundação Paideia, um curso de formação para um acolhimento atento às solicitações específicas relativas a deficiências e necessidades específicas.

Os importantes resultados alcançados logo no primeiro ano de atividade, e que foram partilhados no evento de 17 de maio, reflete a convicção de que, para uma divulgação eficaz, é necessário facilitar o acesso à cultura para todos: este tem sido o valor a orientar todos os projetos do CAM desde o início, o que tem tornado as exposições do Centro Cultural acessíveis a um público cada vez mais vasto e variado.

Os projetos foram financiados pela União Europeia – NextGenerationEU e geridos pelo Ministério da Cultura, no âmbito da Ação Missão 1 do PNRR – “Digitalização, Inovação, Competitividade e Cultura”, Componente 3 – “Cultura 4.0 (M1C3)”, Medida 1 – “Patrimônio Cultural para a Próxima Geração”, Investimento 1.2 – “Remover barreiras físicas e cognitivas em museus, bibliotecas e arquivos para permitir um acesso e uma participação mais alargados na cultura”.

O reconhecimento da proposta cultural do CAM foi também obtido graças à Fondazione CRT (que apoiou os trabalhos de renovação estrutural), à Fundação San Paolo (através da sua participação nas atividades culturais “La bella stagione e Ibridi”), à Região do Piemonte (com contribuições para as atividades de exposição “Hoping together” e para a divulgação cultural “Incontro all’altro”).

Evento de sexta-feira 17 de maio

Testemunhos, reflexões e parábolas foram os protagonistas do evento de 17 de maio, que contou com a participação e a intervenção do padre Gianni Treglia, Superior da Região Europa dos Missionários da Consolata, do padre Ugo Pozzoli, coordenador da Fundação Missioni Consolata, sem fins lucrativos, da Irmã Veronica Donatello, responsável pelo Serviço Nacional de Pastoral para as pessoas com deficiência, e de Simona Borello, da Mediacor.

Estiveram também presentes instituições civis e eclesiásticas, com a participação da Vice-presidente da Câmara Municipal de Turim, Michela Favaro, do Vigário Episcopal para a Educação da Diocese de Turim, Padre Michele Roselli, da Presidente do Distrito 3, Francesca Troise, do Vice-Presidente do Comité Regional dos Direitos Humanos do Piemonte e Diretor da Fundação CRT, Giampiero Leo.

Todos os participantes puderam também mergulhar nas visitas especialmente destinadas a cegos e surdos, com o objetivo de os sensibilizar para os obstáculos, mas também para as oportunidades oferecidas pelas novas tecnologias do CAM às pessoas com deficiência.

Na oportunidade foi inaugurada a Sala de Exposições Temporárias de Urihi. A Casa da Terra com uma versão reduzida de “Mater Amazonia”, a exposição montada nos Museus do Vaticano pelos missionários da Consolata em 2019-2020, por ocasião do Sínodo para a Amazônia e para premiar as obras vencedoras do concurso de arte “Hoping Together”, concebido em conjunto com a Associação Cultural Galfer20, organizado pela Curadora de Arte Monica Fasan e financiado pela Região Piemonte.

A vencedora foi Erika Riehle com a sua obra pictórica Travel Notebook. O segundo lugar foi atribuído à gravura em laje de pedra Fragmentos do infinito e da eternidade no tempo e no espaço, de Anna Torre, e o terceiro lugar à ilustração Memórias em grãos de areia, de Valentina Giarlotto.

Participaram também no concurso os artistas Francesca Thermes (Horizonte Nómada), Guido Mannini (Corrida de Camelos na Paisagem Mágica de Gobi), Roberto Semenzato (O Sopro da Mongólia – Nómadas), Marina Tabacco (A Procura da Harmonia – A Festa da Aldeia. Dança Tsam), Pabliu Lucero do TDFCollective (“Caminho” – “União”) e Mario Giammarinaro (Onda de Maré), cujas obras serão expostas nos espaços do CAM até ao final de julho.

O dia terminou com uma conversa com o missionário no Brasil, padre Corrado Dalmonego, IMC, entrevistado pela antropóloga Elisabetta Gatto, a curadora da coleção etnográfica do CAM, sobre os temas da exploração mineira e do impacto ambiental na terra indígena da Amazônia.

“Hoje quisemos mostrar e contar o impacto social que pretendemos com as nossas atividades: a imersão no território, a proximidade com as comunidades e a construção de uma solidariedade verdadeiramente tangível e inclusiva, valores que orientam os nossos trabalhos”, afirmou o padre Gianni Treglia. “Numa sociedade cada vez mais centrada no individualismo e na exclusão das pessoas com deficiência, pensamos que é importante dar um sinal forte de inclusão e de acolhimento para criar pontes culturais e espirituais. Este é o nosso horizonte, para a qual dedicaremos cada vez mais recursos e trabalho nos próximos anos”.

* Simona Borello é jornalista e cofundadora da Mediacor.

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