Apelo dos líderes religiosos em Cabo Delgado: estamos enfrentando uma crise humanitária

Crianças refugiadas em Pemba, capital de Cabo Delgado. Foto: Edgard Silva

“A nossa Província está atravessando uma profunda crise humanitária causada pela violência dos terroristas. Constatamos uma regressão nos indicadores de desenvolvimento integral, agravado pelas consequências das medidas restritivas para prevenir a pandemia”.

É o que advertem vários líderes religiosos cristãos e muçulmanos na Província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, em um comunicado conjunto denunciando a crise econômica e social causada pela violência terrorista na região, especificamente em Pemba.

O documento enviado à Agência Fides pelos líderes religiosos insiste que os ataques terroristas não devem ser atribuídos à religião muçulmana e rejeita “qualquer declaração que ligue tais atos aos princípios do Islão”. “Rejeitamos qualquer ato ou indivíduo que procure distorcer qualquer doutrina religiosa para justificar qualquer tipo de violência”, lê-se no texto.

As comunidades religiosas dizem estar prontas a “colaborar com o governo, instituições e organizações dedicadas à causa da paz na Província de Cabo Delgado”. “Estamos unidos perante qualquer ameaça de perturbação e repudiamos unanimemente os atos terroristas e extremistas. Confirmamos o nosso compromisso de caminhar lado a lado em direção à paz e à fraternidade”, afirmam os líderes.

Entre os fatores de preocupação para a população destacados no comunicado estão “as desigualdades sociais, o elevado nível de analfabetismo, a crise de valores morais e éticos, e as divisões étnicas e religiosas”. Neste contexto, reafirma uma visão da religião que se dissocia da violência e do preconceito e defende o diálogo social “de forma franca, aberta, honesta e inclusiva”.

A declaração apela também à “condenação de quaisquer opiniões extremistas e qualquer tipo de violência”, sublinhando a necessidade de acompanhar os jovens num caminho de “reconciliação e reintegração social”.

Durante mais de quatro anos, a Província de Cabo Delgado tem sido palco de ataques por rebeldes armados, alguns deles associados ao Estado islâmico auto-denominado. Segundo as autoridades locais e organizações internacionais, o conflito já causou mais de 3.100 mortes e mais de 800.000 deslocados.

Fonte: Agência Fides

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