Encontro de Pastoral Indígena busca novos caminhos de presença na Amazônia

Rio Putumayo em Puerto Leguízamo na Colômbia. Foto: Jaime C. Patias

A cidades de Puerto Leguízamo na Amazônia colombiana é sede, nos dias 1 a 5 de fevereiro, de encontro continental que reúne cerca de 20 missionários e missionárias da Consolata (IMC-MC-LMC) que acompanham povos indígenas no Brasil, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela.

Por Jaime C. Patias *

A programação contempla momentos de partilhas das várias experiências e realidades das comunidades no território, escuta de lideranças indígenas, afrodescendentes e camponesas, apresentação do Centro de Pensamento Amazônico, apresentação da Equipo Itinerante Tri-fronteiriça, visita a uma Comunidade Indígena local e projeção de novos caminhos para o futuro das nossas presenças na Amazônia. A programação inclui também, momentos de místicas e celebrações encarnados na realidade.

O objetivo é partilhar as várias experiências, ouvir o grito da selva e das comunidades, para buscar novos caminhos de presença nessa realidade, à luz da Palavra de Deus, do Sínodo para a Amazônia e da situação atual dos povos que habitam este território.

Do Brasil participam os padres IMC, Bob Mulega e Gabriel Oloo, e as Irmãs MC, Mary Agnes e Teresa Thukani Karatu.

Padres Gabriel Oloo e Bob Mulega no Centro Pastoral do Vicariato de Puerto Leguízamo-Solano.

Padre Bob é ugandês e trabalha na Missão Catrimani em Roraima juntamente com Irmã Mary Agnes, que participou do Sínodo para a Amazônia em 2019 em Roma. O missionário conta como chegou até Puerto Leguízamo.

“No dia 25 de janeiro Padre Gabriel Oloo e eu começamos a viagem deste a Diocese de Roraima para São Paulo e dia 27 chegamos em Bogotá, capital da Colômbia. No dia 29 nos juntamos aos padres Jaime C. Patias, da Direção Geral e Vilson Jochem que trabalha na Venezuela, e seguimos viagem de Bogotá para Puerto Leguízamo onde fomos acolhidos na sede do Vicariato Apostólico”, explica Padre Bob. Ele se sente motivado e inspirado pelo zelo de “uma Igreja sinodal onde todos caminham juntos, se dá voz a todos, saindo ao encontro das periferias não deixando ninguém para trás”.

Expectativas para o encontro

Falando sobre as expectativas para a reunião, Padre Bob destaca: “Pelo fato de estar em comunhão com outros missionários e missionárias comprometidos com a mesma causa no Continente, espero que este momento seja de revitalização principalmente no nosso modo de atuar com os diferentes povos indígenas. É um tempo oportuno para caminharmos juntos e nos fortalecer para o bem dos indígenas, o Instituto e a Igreja. Creio que com as partilhas de cada missionário e missionária terei respostas para certas dúvidas sobre a realidade da Pastoral indigenista no vasto território da Amazônia. Espero sair desse encontro mais animado para seguir lutando por essa causa”, complementa Padres Bob. No Catrimani trabalha também o Irmão Ayres Osmarim, brasileiro que viveu por mais de 20 anos em Moçambique.

Padres Bob visita comunidades Yanomami pelo Rio Catrimani.

Para partilhar sobre as diversas realidades e experiências na convivência respeitosa com as comunidades indígenas e amazônicas, Padre Bob relata que trouxe para esse encontro, “a riqueza da minha experiência que eu vivo, vejo, ouço do povo indígena na Terra Yanomami da Missão Catrimani, um lugar isolado na floresta onde é possível chegar de Boa Vista somente de avião em voos com duração de 1 hora que custam cerca de R$ 7.000,00 reais.

Sobre o estilo da missão, Padre Bob sublinha que no Catrimani, “há mais de 50 anos nós missionários e missionárias da Consolata realizamos uma missão de presença evangelizadora e consoladora entre os Yanomami respeitando sua cultura, identidade, expressões religiosas e seu território, aprendendo e partilhando com eles o amor de Deus encarnado na sua vida como um todo, sem perder a nossa identidade como religiosos”.

Irmãs Mary Agnes e Noemi em visita às comunidades Yanomami pelo rio Catrimani
Terra Indígena Raposa Serra do Sol

Padres Gabriel Oloo é queniano e há cinco anos trabalha nas comunidades da Terra Indígena Raposa Serra do Sol (TIRSS) em Roraima. De lá veio para o encontro também, a Irmã Teresa Thukani Karatu, MC.

“Com a presença de missionários e missionárias trabalhando nas várias comunidades indígenas da América Latina, a minha expectativa é partilhar experiência, refletir e também ouvir as lideranças indígenas. Cada qual com o seu desafio, com a sua luta e, sobretudo, com a sua experiência com intuito de buscar novos caminhos de presença”, observa Padre Gabriel.

Nesse encontro, Padre Gabriel representa os missionários que atuam nas quatro regiões da Terra Indígena Raposa Serra do Sol onde vivem cinco etnias indígenas em 210 comunidades. Para conseguir libertar os invasores da TIRSS, as lideranças tiveram de resistir uma luta por quase 30 anos. “Trago as minhas experiências, desafios, luzes e esperanças desses cinco anos de presença e trabalho na área indígena. Terei a oportunidade de apresentar a caminhada das comunidades indígenas da TIRSS, antes e depois da homologação em 2005, com olhar e jeito diferentes de pensar, viver e projetar o futuro”, explica o missionário.

Padre Gabriel Oloo com comunidade indígena da TRRSS em Roraima
Uma opção histórica

As opções pelos indígenas e pela Amazônia estão entre as prioridades dos missionários e missionárias da Consolata no Brasil. Este compromisso foi reforçado com a unificação das regiões IMC da Amazônia e do Brasil em 2019 e a criação da Região MC América.

A Missão encarnada no Catrimani e a presença profética na Raposa Serra do Sol são apresentadas como modelos, sempre que se discute o estilo de missão entre os povos indígenas. Após 70 anos de presença na TIRSS, as comunidades estão fazendo um esforço para retomar o histórico Projeto de Evangelização, “O Plano de Deus para nós”. O protagonismo dos povos indígenas guia o caminho a seguir.

Um dos grandes desafios é cuidar e proteger a terra das invasões de garimpeiros e projetos que impactam a vida das comunidades. Além de acompanhar as comunidades cristãs com os cuidados pastorais, outro desafio é a formação de líderes para cuidar da terra com projetos sustentáveis, que preservem a cultura, identidade, língua, canções, danças, histórias, conhecimentos diversos, etc.

Centro de Documentação Indígena
Irmão Carlo Zacquini e Padres Corrado Dalmonego no CDI

O Centro de Documentação Indígena (CDI) em Boa Vista é uma iniciativa importante do Irmão Carlo Zacquini que contribui para a memória das missões e fornece informações valiosas para a investigação. Com a construção do novo edifício é importante conectar o CDI e suas atividades com o Centro de Pensamento Amazônico que está sendo organizado em Puerto Leguízamo e o Centro de Pastoral Indígena em Tucupita na Venezuela. São espaços para preservar a cultura indígena que servem não somente para pesquisadores das universidades e escolas, mas também para a formação dos nossos estudantes de teologia e a inserção de novos missionários.

Em Roraima temos ainda, o trabalho da Equipe Missionária Itinerante que, entre outros trabalhos na acolhida aos imigrantes venezuelanos está empenhada em acompanhar os indígenas Warao que migram do Delta Amacuro, na Venezuela para o Brasil.

Este encontro de Puerto Leguízamo será iluminado pela memória do último encontro IMC-MC-LMC de Pastoral Indígena e opção amazônica realizado em Manaus em 2018. Somado a novos elementos da realidade atual buscará novos caminhos de presença nesse território com suas igrejas locais e comunidades.

* Padres Jaime C. Patias, IMC, é Conselheiro Geral para América.

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