Cânticos, via-sacra missionária, dramatizações, Eucaristia presidida por Dom José Ornelas, bispo de Leiria-Fátima e consagração a Nossa Senhora na Capelinha das Aparições. Esta foi a programação da 34ª Peregrinação da Família Missionária da Consolata ao Santuário de Fátima, em Portugal que aconteceu este sábado, 17 de fevereiro.
A peregrinação reuniu cerca de seis mil pessoas de vários lugares de Portugal que se concentraram em frente ao Seminário da Consolata, todos envergando um lenço branco, especialmente concebido para um dia que é de festa.
O acolhimento coordenado pelo padre Albino Brás, IMC, foi feito por jovens de vários pontos do país. Os Jovens Missionários da Consolata (JMC) do Sul de Portugal e os Leigos Missionários da Consolata (LMC) daquela região, entoaram cânticos missionários, enquanto outros jovens faziam esvoaçar bandeiras de diversos pontos do mundo, lembrando o trabalho levado a cabo pelos missionários em diversos países.
Dirigindo-se aos peregrinos, o Superior Regional da Europa, padre Gianni Treglia IMC, lembrou que “hoje é um dia de festa. Mais uma vez, o Beato José Allamano, fundador dos Missionários e Missionárias da Consolata, reúne-nos e faz-nos permanecer juntos. Convida-nos com o seu exemplo a estar abertos à novidade de Deus, à beleza do Evangelho, à missão. Estamos reunidos para fazer festa. Fazer festa pertence, justamente, a quem tem o coração feliz e, de alguma forma, agradece ao Senhor por esta alegria que sente. Portanto, agradeçamos juntos ao Senhor por todo o trabalho missionário que é realizado no mundo por tantos missionários, homens e mulheres, religiosos e leigos”, disse o responsável.
Padre Gianni Treglia explicou aos peregrinos o significado do tema da peregrinação – “Enviados a consolar” – e lembra que em 2026, será celebrado o centenário da morte de José Allamano. “Somos enviados para consolar! É o convite a deixar-nos perturbar, a ir além dos nossos medos e reticências, a descentralizar-nos para fazer chegar a todos o amor de Deus Pai. É o convite para não vivermos mais para nós mesmos”, disse o religioso, realçando de seguida que a “força do Espírito Santo põe-nos a caminho, ao encontro dos outros, impele-nos a fazer da nossa vida um caminho, um dom, uma palavra evangélica pronunciada e oferecida criativamente em nome do amor de Cristo. O motivo de cada missão é precisamente o amor de Cristo: este amor, para nós, família missionária da Consolata, tem uma tradução específica: ‘Enviado para consolar’”, frisou padre Gianni Treglia.
O Superior Regional apontou depois, para a mensagem que hoje Deus pretende transmitir. “Essa mensagem é que levemos, através da Palavra de Jesus, uma boa notícia aos abandonados, um anúncio de liberdade aos escravizados e oprimidos, uma promessa de salvação. Uma mensagem que enche de esperança toda a humanidade”, destacou o religioso.
“Enviados a consolar”
O Padre Simão Pedro, IMC, e coordenador da peregrinação, destacou o tema deste ano: “Enviados a consolar”, lembrando o Beato José Allamano. “A partir de Itália, Allamano conseguiu, em 1901, convencer quatro missionários a ir em missão para África. Este ardor missionário de querer levar o Evangelho a todo o mundo e ajudar os mais pobres é impressionante. É notável a força que este homem tinha, que conseguia entusiasmar e convencer as outras pessoas a alinhar neste projeto. São esperadas seis mil pessoas nesta peregrinação e o nosso objetivo é sensibilizá-las para esta grande necessidade de acolher a alegria do Evangelho e de espalhá-la aos outros”, destacou o padre Simão.
Via-sacra missionária
Durante a Via-sacra Missionária, realizada no topo da Capela de Santo Estevão, nos Valinhos de Fátima, jovens encenam vida de José Allamano, o Fundador dos dois institutos missionários presentes em 33 países de quatro continentes. A dramatização chegou ao fim com a aproximação dos jovens do público com bandeiras de um conjunto muito variado de países. “Caros irmãos e amigos, colaborados e benfeitores da nossa família missionária, estão espalhados entre vós as bandeiras dos países onde trabalham os missionários e missionárias da Consolata. Através dos seus filhos e filhas espalhados pelo mundo, bem como através de cada um de nós, o Pai Allamano continua a amar e a abraçar o mundo: somos enviados a consolar porque fomos consolados, somos enviados a anunciar e a praticar os valores do evangelho porque Cristo os semeou em nossos corações. Que o Espírito Santo de Deus nos ilumine, fortaleça e renove, para sermos Evangelho vivo para muitos, partilhando com todos a consolação, a paz e a esperança de Deus.”
As meditações da via-sacra foram uma ocasião para ter presente as “tantas pessoas” que “sofrem vítimas de conflitos armados, fome, catástrofes naturais, doenças, depressões, desemprego, abandono e solidão”. “Não falta quem precise de apoio, quem precise de ser escutado, quem precise de uma palavra amiga, quem precise de ser consolado, pois é difícil conservar a esperança no meio de tanto sofrimento”, dizia uma das reflexões.
A Via-sacra missionária recordou os povos em sofrimento na Palestina, em Nagorno-Karabah, Ucrânia, Síria e Iémen. Lembrou também as pessoas que vivem sem abrigo, assim como “todas as mães que suportam a solidão, desprezadas pelos seus filhos, ou que são largadas em lares, sem visitas, sofrendo a ausência dos seus filhos e dos netos”.
“Falta gente que enxugue as lágrimas”
A Eucaristia celebrada na Basílica da Santíssima Trindade foi presidida por Dom José Ornelas, bispo na diocese de Leiria-Fátima, e presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP). Na homilia, o prelado lembrou alguns dos dramas que afligem a humanidade como as guerras, os desastres naturais e o caso das “famílias que trabalham, mas não conseguem cumprir os seus compromissos”. Dirigindo-se aos jovens, pediu-lhes para que “não deixem de sonhar”, e disse depois que são necessárias pessoas disponíveis para ajudar os que sofrem.
“Falta gente que enxugue as lágrimas, que procure caminhos de construção. São necessários caminhos de recuperação da vida”, disse o bispo, lembrando aos fiéis que atualmente se vive a Quaresma, “um tempo de mudar de mente”. Num ano em que há eleições em Portugal e na Europa, Dom José Ornelas pediu aos fiéis para que votem. “Não podemos ficar em casa. Um cristão não se abstém. Temos de participar”, disse.
No final da celebração, o padre Bernard Obiero, IMC, Conselheiro Regional, agradeceu a todas as pessoas que deram o seu contributo para o sucesso da peregrinação, e lembrou a figura do padre João De Marchi, IMC, que chegou a Portugal em 1943 e abriu o primeiro seminário da congregação religiosa em Fátima.
Consagração a Nossa Senhora de Fátima
A conclusão da Peregrinação teve lugar na Capelinha das Aparições, ao final da tarde do sábado. O dia contou com diversos momentos, possíveis graças ao contributo de muitas pessoas amigas da congregação religiosa, e foi uma ocasião para reunir fundos para o projeto anual dos Missionários da Consolata, que tem como propósito reconstruir um espaço educativo em Massangulo, Moçambique.
A consagração a Nossa Senhora de Fátima foi conduzida pelo padre Álvaro Pacheco, IMC, que pediu aos peregrinos uma atenção àqueles que estão próximos, sobretudo os mais frágeis. “Neste mundo que se afasta cada vez mais dos valores que promovem o ser humano, ferindo-o na sua dignidade, porque se afasta cada vez mais dos valores de Deus, queremos ser Igreja que oferece o abraço, a paz e a consolação de Cristo a todos os que se cruzam conosco, sobretudo os mais necessitados de amor, de paz e de sentido para a vida. Tal como há dois mil anos atrás Jesus enviou os Seus apóstolos pelo mundo fora, hoje somos nós os enviados aos corações e às periferias humanas, para dar continuidade à Sua missão. Que nossa Mãe Consolata nos ajude a perseverar nesta bonita e desafiante vocação: sermos Evangelho vivo para todos à nossa volta”, finalizou padre Álvaro.
* Juliana Batista, é jornalista da Revista Fátima Missionária. Editado a partir das notícias publicadas no site www.fatimamissionaria.pt